terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Mad Mad Mod



As moças “mod” e os rapazes inglêses saem à rua, todos os dias, com o sol do meio-dia, passeando pelas boutiques e antiquários de Londres, em busca de tesouros raros e estranhos, como peles de rato, uniformes do século passado e outros trajes requintados da época eduardiana.

Por Robert Musel (UPI, Londres)


A última novidade em Carnaby Street é metade dessa rua ser agora, da propriedade pessoal do símbolo britânico do conservadorismo, a Rainha Elizabeth II. Os homens que administram as vastas propriedades da Rainha sentiram que poderiam obter grandes lucros na rua que comanda a moda pop, bem como em todos os lugares que retratam a agitada Londres. Assim, a Coroa é dona, atualmente, de todo o lado ocidental da rua, juntamente com uma área bastante dilapidada, mais ou menos um quarto de acre, que se transformará numa zona de boutiques depois de uma despesa de mais de trezentos mli dólares em urbanização.

Carnaby Street é o berço da minúscula micro-saia e a visão de uma moça tentando sentar-se no ônibus ou no metrô merece ser conservada reverentemente na memória do turista, lado das jóias da Coroa e do Big Ben.


Os londrinos já não se surpreendem com as novas modas e mal notam as moças mod e os rapazes de cabelos compridos com vestes de sêda e babados de renda em volta do pescoço. O que surpreende os londrinos é o fato de essas modas terem nascido em Carnaby Street. Esta pequena e insípida rua, na fronteira mais decadente do Soho, o bairro dos clubes de jazz e dos restaurantes típicos, estava morrendo em silêncio, quando, há cerca de l0 anos, o fogo destruiu o atelier de um costureiro de 20 anos, John Stephens. Esse atelier econtrava-se em Beak Street, urna pequena rua bastante perto de Carnaby Street

O senhorio de Stephens, depois do incêndio, ofereceu-lhe um novo local em Carnaby Street. A mudança também mudou a sorte do jovem costureiro. Seus desenhos, e mesmo ele confessava que eram bastante fora do comum, pegaram e viraram moda. Hoje, em virtude de seu sucesso, existem numerosas lojas comprimidas em pouco mais de 100 metros de rua, sendo seis delas de propriedade do agora rico John Stephens.

Os primeiros fregueses da rua foram rapazes e moças da classe trabalhadora, que se apinhavam na estreita calçada, empurrando-se uns aos outros, na ânsia de verem tudo o que havia nas vitrinas das estranhas lojas, de nomes como Lord John of Carnaby Street, Gear, The Camp e Domino Male.

Depois, os ricos e os nobres também vieram olhar e, por vezes, comprar. Mais tarde, chegaram os turistas, atraídos pela magia do nome da rua, que depressa se espalhara pelos quatro cantos do inundo. Os fregueses mais conhecedores encontravam coisas que lhes agradavam, por certo, mas a maioria das roupas à venda, não havia dúvida, eram muito mal acabadas e mesmo deselegantes.

Os compradores depressa se tornaram exigentes e, agora, Carnaby Street tem de fazer frente a uma forte concorrência não só de boutiques de outras ruas de Londres, como Hung On You e I Was Lord Kitchener’s Valet, mas também de costureiros e lojas de outras cidades do mundo. Carnaby Street tornou-se um símbolo da revolução na moda dos jovens e, aconteça o que acontecer, pode dizer-se que influenciou as roupas do nosso tempo, da mesma forma como Savile Row o fêz no que respeita às gerações passadas.


De início, John Stephens dedicou-se à moda jovem masculina. Depois, Courréges, da França, lançou a saia por cima dos joelhos — um estilo que as môças inglêsas adotaram imediatamente. Em seguida, as saias continuaram a encolher, até que algumas chegaram a ficar 15 centímetros acima dos joelhos.

Carnaby Street tem sido o ponto de partida de várias modas, muitas delas totalmente loucas. Lançou, por exemplo, uma jaqueta de estilo militar. Os antiquários do mercado de Portobelo Road ofereceram-se prontamente para vestir os jovens com velhos uniformes de general ou almirante, cobertos de enfeites dourados. Depois, a moda mudou para as capas de policiais, roupa que foi usada por quase todas as vendedoras das lojas de discos. Mais tarde, vieram os ternos listrados dos gangsters de 1920.

Para os turistas, Carnaby Strcet lançou a venda em massa de bandeiras inglesas. O emblema nacional, a Union Jack, pode ser encontrado em posters, nas roupas, em travesseiros e até em volta de latas contendo “ar de Londres”. Mas, enquanto você estiver em Carnaby Street, não procure esconder qualquer coisa no bolso. Os astutos jovens negociantes estão dc olho em sua louca clientela e já estão instalando circuitos fechados de televisão para reduzir o número de roubos.



Fonte: Vários Autores, Explosão da Juventude, Editora Expressão e Cultura: Rio de Janeiro, 1970, pgs. 83-85

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Psicodelia Para Principiantes: Ligue-se... Sintonize... Caia Fora (do Sistema)




por André Forastieri e José Augusto Lemos


Turn on, tune in, drop out, o slogan máximo do psicodelismo, criado por Timothy Leary, pode sugerir hoje ranço e hippismo.

Afinal, pós-perestroika, as drogas foram eleitas inimigo número um da Civilização Ocidental. E entre seus consumidores — um mercado global que movimenta cerca de cem bilhões de dólares ao ano, quase a dívida externa brasileira — as químicas mais procuradas não são mais as alucinágenas, mas as estimulantes: cocaína, crack, anfetaminas diversas. A maconha continua popular, mas seu consumo cai regularmente no mundo inteiro há anos.

Substâncias alteradoras do funcionamento da mente são cada vez mais malvistas. Para a geração que cresceu sob a ofensiva antidrogas de Reagan, é inimaginável o fato de que há pouco menos de trinta anos a utilização de alucinógenos como expansores da consciência era defendida com unhas e dentes por uma fração razoável da elite científica do planeta.

A psicodelia — “manifestação do espírito”, em grego — tem raízes milenares. Praticamente todas as civilizações de que se tem notícia usaram um ou outro tipo de alucinógeno, quase sempre com fins religiosos. Mas a maneira como o movimento psicodélico floresceu no início dos anos 60, principalmente na costa oeste dos EUA, tem uma base distinta no New Deal, politica de realinhamento econômico promovida nos anos 30 e 40 pelo presidente Franklin Roosevelt.

A América pós-New Deal foi pautada por quatro explosivos elementos: o maior desenvolvimento econômico da história, a maior distribuição de renda, a maior expansão da rede de comunicações, a maior explosão demográfica. O termo baby boom é perfeito: entre 1946 e 1964, 86 milhões de crianças foram colocadas numa sociedade superafluente, em meio à uma explosão informacional inédita. A televisão colocou o mundo ao alcance de todos e forneceu a essa geração uma fortíssima ilusão de livre arbítrio.

O material humano para a aventura psicodélica já estava, portanto, em ponto de bala. O material químico também: já em 1938, o bioquímico suíço Albett Hoffman havia sintetizado o vigésimo-quinto derivado do ácido lisérgico, mais conhecido como LSD.25. Em 1958, sintetizou a psilocibina, princípio ativo dos “cogumelos mágicos” mexicanos. E a maconha, claro, já era consumiria nos circuitos jazzísticos.

A Califómia dos anos 50 foi um foco privilegiado para o nascimento da chamada “contracultura”, reunindo artistas expatriados como Aldous Huxley e a produção local dos hipsters e beatniks, amantes do jazz e da poesia libertária de Walt Whitman e Thoreau. Na linha de frente, o grupo de escritores beat, comandado por Jack Kerouac, Alien Ginsberg e a farmácia ambulante, cobaia de si mesmo na experimentação de toda e qualquer droga, William S. Burroughs. Entre eles, o interesse pelo hinduísmo e pelo zen-budismo (disseminados pelos escritores Alan Watts e D.T. Suzuki) lançava as sementes para o movimento hippie da década seguinte.

A primeira bíblia do psicodelismo veio assinada por Aldous Huxley, descrevendo sua experiência com a mescalina, princípio ativo do peiote (cacto mexicano). Editado em 54, As Portas Da Percepção adquiria uma credibilidade com que os beatniks não podiam sonhar; seu autor era um romancista e ensaísta inglês consagrado. Em seu leito de morte, em 63, Huxley pediu uma dose de LSD.25, não recusada. (O ácido lisérgico, comercializado em cubinhos de açúcar e depois papel mata-borrão, só foi proibido em outubro de 66.)

A coisa toda poderia ter continuado como uma brincadeira de elite, como o ópio entre os poetas românticos ingleses e o haxixe entre os românticos e simbolistas franceses (Théophile Gautier, Baudelaire e Nerval chegaram a fundar um Clube do Haxixe na Paris do século dezenove). As comunicações de massa não deixaram, ajudadas pelo doutor em psicologia clinica Timothy Leaiy, professor da prestigiosa universidade de Harvard, que desde 60 pesquisava a psilocibina e o LSD, até ser expulso em 63. Perseguido pelo establishment e sem dinheiro para continuar suas pesquisas, Leary viu a saída apontada numa conversa com o mais influente teórico das comunicações dos 60, Marshall McLuhan. O conselho: "Se você realmente acredita no LSD, faça proselitismo, palestras, happenings, shows, coisas criativas. Não perca urna chancede divulgar suas idéias na mídia. Se você ficar sozinho, está ferrado”. Leary seguiu-o à risca — com enorme sucesso. O livro reunindo suas palestras e entrevistas — The Polítics of Ecstasy — tornou-se a segunda bíblia psicodélica.



Quando veio a década de 60, São Francisco já cultivava a boêmia beatnik como uma tradição e, aos poucos, seu cenário musical começou a refletir isso. O culto ao jazz foi trocado por uma onda de folk de protesto, que por sua vez fez a transição para o rock psicodélico da primeira geração: Jefferson Airplane, Quicksilver Messenger Service, Moby Grape e o maior de todos, o Grateful Dead — com sua legião de seguidores, batizados “deadheads”. Comandado por Jerry Garcia, o grupo participou integralmente dos acid tests (festas de som e imagem, a primeira versão das atuais raves inglesas) organizados pelo escritor Ken Kesey e sua turma, os Merry Pranksters. Quem lê inglês, não deve perder TheEletric kool-Aid Acid Test, de Tom Wolfe, que acompanhou todo o trajeto dos Merry Pranksters e, por tabela, escreveu a história definitiva do movimento hippy.

O florescimento do psicodelismo — que teve seu auge entre 65 e 66, e iniciou sua massificação mundial em 67, o chamado “Verão do Amor” logo fez uma ponte com a Europa, através de Londres. Carnaby Street, com suas butiques hippy, passou a ser o equivalente à esquina da rua Haight com a rua Ashbury, o centro do turbilhão em São Francisco. O intercâmbio era feito basicamente através de rock stars em turnê. Segundo a lenda, os Beatles fumaram maconha pela primeira vez com Bob Dylan; e Tom Wolfe descreve, no livro citado, o primeiro contato do quarteto de Liverpool com o underground californiano.

Em pouco tempo, Londres tinha no Pink Floyd o seu Grateful Dead. Com um light show lisérgico e encabeçado pelo freak Syd Barrett, o grupo era a principal atração do underground e não perdeu o séquito de fãs quando, contratado pela Columbia, passou a freqüentar as paradas de sucesso.



A descoberta de que o flower power já contava com uma multidão de adeptos se deu com a organização de um festival de grupos psicodéiicos organizado pelos Merry Pranksters e o Grateful Dead: grátis, ao ar livre, o First Human Be-ln reuniu milhares no Golden Gate Park, em janeiro de 67 em São Francisco. A indústria fonográfica — sediada ao lado, em Los Angeles — percebeu o potencial e, em junho do mesmo ano, promoveu o Monterey Pop Festival. A movimentação era divulgada via satélite para o mundo todo, mas a contracultura criava seus próprios sistemas de divulgação: rádios pirata, fanzines, gibis underground, jornais como o Detroit Free Press, revistas como Rolling Stone, International Times e — na Inglaterra, IT e Oz. A reação veia a cavalo, com a maioria conservadora dos EUA elegendo Nixon em 68 e as grandes empresas aproveitando a onda — como a Wamer Bros. ao transformar o festival de Woodstock num megaevento de marketing. Morreram Hendrix, Janis Joplin, Brian Jones, Jim Morrison, e John Lennon arriscou um epitáfio: “O sonho acabou”.

Acabou nada. A contracultura e a psicodelia — mesmo banalizadas em musicais como Hair — foram um salto evolutivo no comportamento da raça humana, com um saldo político inegável. Na música pop nem se fala. Muito antes que o De La Soul sampleasse os ultrapsicodélicos Turtles, e o cenário acid house detonasse o verão londrino de 86 (com a adoção de um novo químico, o ecstasy), sua influência já podia ser sentida, de toda uma safra pós-punk inglesa ao funk de Prince. Boa parte da cultura pop vive hoje da criação de novas embalagens para os mitos dos 60 — para enorme alegria dos executivos das gravadoras e do establishment em geral, que preferem lidar com nostalgia inofensiva do que com novas formas de subversão.

Quem quiser saber mais sobre a movimentação dos 60 tem pelo menos dois bons livros à disposição no mercado brasileiro. Flashbacks, autobiografia de Leary, traça o mapa do sonho psicodélico. Las Vegas Na Cabeça, do jornalista gonzo e integrante da equipe original da Rolling Stone, Hunter S. Thompson, mostra com humor negríssimo o outro lado da moeda, a derrocada dos mais altos ideais da contracultura.



Fonte: Revista ShowBizz, ano 1990, sem número, pags 34-35

Electro de Cara Nova


por
Luiz Pareto



Electro, esse velho estilo que entrou e saiu de moda mais de uma vez e que recentemente voltou a ser tocado com mais frequência nas pistas do mundo todo. Ele nunca sumiu de vez realmente, pois alguma forma de electro-funk continuou sendo tocada em cidades como Detroit, Miami e até Rio de Janeiro. Mas de onde surgiu esse gênero?


Pode ser meio difícil você tentar dizer com exatidão qual foi o primeiro disco de electro ou quem foi seu criador, mas uma coisa é certa, o gênero deve muito a bandas como Kraftwerk (especialmente os trabalhos da década de 80) e Cybotron, e também a um produtor visionário do bairro Queens em N.Y. chamado Marley Marl, que acidentalmente inventou o sampler de drum machine e começou a fazer produções mais próximas do hip hop seguido por bandas como Mantronix, Soulsonic Force e Afrika Bambaata com sua popular "Planet Rock". A cultura do hip hop com suas danças cheias de movimentos de mímica ('breaking' ou 'breakdance') e estilo de vestir foram de alguma forma incorporadas à cena de electro. Pode-se dizer que o electro fez a ponte perfeita entre o hip hop e o techno que surgiu em 87 (Detroit).


Porém mais tarde, com a popularização da base funk, o electro deixou de ser visto como gênero eletrônico de qualidade. Passou um tempo até que em meados dos anos 90 rolou um novo hype em torno do estilo. A banda AUX 88 (na época já com 10 anos de estrada) foi apontada pelo NME como responsável pelo revival do gênero, mas os integrantes diziam que não era isso que tinham em mente e que a coisa era mais para acordar as pistas que estavam dominadas por um tipo de techno frio e sem alma. Pregavam a volta do elemento negro na música techno presente nos trabalhos dos criadores do estilo e também nas faixas do Underground Resistence (que em 98 lançou um álbum repleto de electro) de Mad Mike. Bandas como Dopplereffekt, Flexitone e Detrechno (assim como os selos Direct Beat e o ingles Clear) também foram importantes nessa época com suas produções de electro/techno-bass.



Nos últimos anos, a inglaterra também vem sendo berço de produtores desse estilo como Carl Finlow de Leeds (que também produz tech-house pelo selo 20:20 vision) e seu criativo projeto 'Voice Stealer'. O projeto de dub house/deep house 'Swayzak' também anda soltando faixas de electro. Enfim, o gênero continua por ai e está até bem forte em cidades como Amsterdam e Detroit. Mas e o Brasil nisso tudo? Como é que fica?

Bom, o electro rolou por aqui também de uma forma ou de outra. Os DJs tocaram bastante "Planet Rock" e faixas do Mantronix na década de 80 e em 96 quando o gênero voltou, uma festa em Sampa garantia longas sessões de electro misturadas a outros tipos de breakbeat. Era a finada festa 'Breakin'' que Mau Mau e eu faziamos semanalmente (96/97) e que continuei fazendo sozinho até meados de 99 sempre com DJs convidados como Alex U.M., Danny Junkie e George Actv. No Rio de Janeiro, fora o formato pop do funk (super influenciado pelo miami bass) que rola na periferia, tem também o DJ Mauricio Lopes, que desde os tempos da festa 'Oops', mistura bastante electro com techno para o delírio de seus seguidores. Ricardinho N.S. também vem fazendo o mesmo. Pelo visto, o estilo não vai sumir tão cedo e deve mesmo é continuar se reformulando e evoluindo.





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