quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Punks Muçulmanos




Por Brian Whitaker (19 de março, 2007)
Traduzido por Sylvia Bojunga


Nesta semana foi publicado no Reino Unido um livro sobre muçulmanos, o qual, posso afirmar com segurança, é absolutamente singular. É uma novela intitulada “The Taqwacores”.

Embora eu tema que nossa elite literária possa desprezá-la e que os muçulmanos mais conservadores sintam-se ofendidos por ela, a obra já conquistou uma seita nos Estados Unidos e algum reconhecimento por aqui no The Sun. Nas palavras do editor: "The Taqwacores está para a literatura assim como o Sex Pistols foi para a música."

Aguardo a chegada do livro com muito interesse porque, por acaso, eu ajudei a trazê-lo para a Inglaterra... mas talvez eu deva voltar ao início.

O autor, Michael Muhammad Knight, pode ser descrito como o Hunter S. Thompson da literatura islâmica. Americano de descendência católica irlandesa, converteu-se ao Islã aos 16 anos lendo a biografia de Malcolm X. Aos 17, partiu para o Paquistão, e passou seis horas por dia estudando religião, entrou em contato com refugiados afegãos e quase se juntou aos combatentes chechenos. Porém, mudou de idéia, retornou aos EUA, desiludiu-se e transformou-se em um punk muçulmano.

Caso você esteja imaginando o que é um punk muçulmano, ou como se tornar um deles,
eu também não estou inteiramente seguro, mas, no caso de Knight, significa ser "aquele cara em uma festa que fica num canto e fala merda sobre todo mundo."

Isso inclui fazer o diabo com o establishment muçulmano. Ele reivindica para si o fato de ter feito a má fama de Yusuf Islam (ex-Cat Stevens) e outras celebridades muçulmanas, e escreveu uma série de reportagens sobre as conferências da Sociedade Islâmica da América do Norte (2003, 2004 e 2005) em estilo que faz lembrar a revista Rolling Stone.

Em uma entrevista em 2004, ele destacou as semelhanças entre a comunidade muçulmana e (você nunca adivinharia) George W Bush: "Ele é anti-aborto, anti-gay e defende tudo o que faça do Islã típico algo tão duro e vil como o Cristianismo típico."

Dizem que Knight passou a visitar sua mesquita local somente à noite, quando não havia mais ninguém por perto, e eventualmente conseguia uma chave que permitia que dormisse lá. Foi durante as noites na mesquita que ele começou a escrever histórias e seu primeiro livro “Where Mullahs Fear to Tread” (Onde os mulás temem pisar) – concluído aos 19 anos – , que teve a honra de ser banido por autoridades religiosas em Singapura.

Seu segundo livro, “The Taqwacores”, é a história de alguns punks muçulmanos em Buffalo, Nova Iorque, dividindo, juntos, uma mesma casa. A sala de estar tem múltiplas funções, como local para orações e espaço livre para festas – para os primeiros propósitos, eles arrancaram alguns tijolos da parede para servir como um oratório voltado para Meca. Sua vida em comum mistura sexo, drogas e orações em quantidades aproximadamente iguais, somadas à devoção quase-religiosa pelas bandas punk islâmicas taqwacore – o tipo de músicos que perdem suas convicções de rua no momento em que começam a se tornar populares.

Este é o ponto no qual a ficção se torna realidade, porque na época em que o livro foi escrito a música taqwacore não existia realmente. Agora existe, como resultado do livro. A palavra taqwacore é uma combinação de hardcore (som de rock pesado) e "taqwa" – um termo árabe geralmente traduzido por "devoção".

Hoje, a banda taqwacore mais conhecida é “The Kominas” (uma palavra Punjabi que significa bastardos), e algumas de suas letras estão aqui. Uma de suas canções mais polêmicas, “Rumi Was a Homo” (Rumi era homossexual), ataca Siraj Wahhaj, um proeminente imã (líder muçulmano) do Brooklyn acusado de homofobia.

Embora “The Taqwacores” seja agora estudado em cursos em diversas universidades americanas, levou algum tempo para que o livro fosse formalmente publicado. No início, Knight fez fotocópias dele na loja Kinko's local e as distribuiu pessoalmente nos estacionamentos das mesquitas.

Por fim, o livro foi vendido pelo correio por meio do Alternative Tentacles, um selo de discos da Califórnia, que vende sob o provocativo slogan: "Mantendo a pátria insegura desde 1979".

Eu descobri o livro um dia enquanto navegava na internet, encontrei um fragmento, e pedi uma cópia. Quando chegou... bem, eu nunca li nada parecido, antes ou desde então.


No início do ano passado, eu estava conversando em Londres com uma amiga que trabalha com edições e contei a ela sobre “The Taqwacores”.

"Mmm ... parece interessante," ela disse, e prometeu ler. A próxima coisa que eu ouvi foi que alguém de sua equipe tinha ido para os Estados Unidos, procurado Knight e assinado com ele os direitos de publicação para a Inglaterra.

Então agora está aqui. Estou um pouco apreensivo mas espero que as organizações muçulmanas inglesas sejam sensíveis e pensem duas vezes antes de protestar. Elas reclamam - corretamente – por serem estereotipadas pela mídia, e “The Taqwacores” é um poderoso antídoto para isso (o que é uma boa razão para que seja lido e circule o mais amplamente possível).

A leitura é fácil e engraçada mas, em outro nível e sem se alongar sobre o ponto, o livro é também profundamente desafiador. Ele aborda – de uma forma chocante mas essencialmente positiva – questões de identidade que são enfrentadas, em alguma medida, por todos os jovens muçulmanos que crescem no Ocidente.

É claro, haverá gente que insistirá que os personagens do livro não são “verdadeiros” muçulmanos. Estou adivinhando, mas acho que este é o ponto principal que Knight desejava levantar. Como você define um “verdadeiro” muçulmano? Em que bases? E alguém tem o direito de julgar?".


Fonte

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Os "Piratas" da Resistência




Os "Piratas" da Resistência
por JM e SV

Embora ainda considerados pela história oficial criminosos comuns, os Piratas Edelweiss escreveram um capítulo na história da resistência ao nazismo. Jovens e avessos ao regime, eles sonhavam, entre outros, com o longínquo Rio de Janeiro.

A origem do nome não é certa. O que se sabe é que o movimento juvenil conhecido como Os Piratas Edelweiss (Edelweiss Piraten) não teve final feliz. Em novembro de 1944, a Gestapo enforcou 13 adolescentes nas dependências de uma residência em Colônia. Os adeptos daquilo que simbolizava uma alternativa à Juventude de Hitler (Hitler Jugend), sabotadores do regime nazista, arriscaram não apenas serem detidos e torturados, mas suas próprias vidas.

Hoje, 60 anos depois, a história oficial ainda registra os jovens Piratas Edelweiss como meros ladrões e criminosos. Seus atos de resistência, embora ignorados pelas autoridades na Alemanha, já obtiveram o reconhecimento até mesmo do Estado de Israel. Em 1984, o Memorial Yad Vashem prestou uma homenagem a Jean Jülich, um dos sobreviventes do grupo.


Recuperando Registros da Memória

Enquanto as autoridades em Colônia debatem sobre a possibilidade de reescrever a história da resistência feita pelos Piratas Edelweiss, Jülich já publicou suas memórias há cerca de um ano, sobre as quais se produziu um documentário –...Piratas Edelweiss, eles são fiéis. Além disso, no CD Foi em Xangai bandas de Colônia interpretam canções dos Piratas. Um DVD e um livro sobre o assunto completam o projeto. Todas as obras são fruto de um trabalho árduo, uma vez que todo o material foi recolhido através da lembrança dos sobreviventes.

Estima-se que havia, nos anos que antecederam o fim da Segunda Guerra Mundial, cerca de três mil Piratas Edelweiss vivendo em Colônia e mais centenas de outros nas cidades vizinhas. Estes jovens não estavam aliados a nenhuma facção política ou organização religiosa, nem tampouco o movimento possuía uma estrutura organizada.

O que tinham em comum era não se identificarem com a ideologia propagada pela Juventude de Hitler, após a ascensão dos nazistas nos anos 30. Eram, em princípio, um grupo de adolescentes rebeldes como outro qualquer. A diferença é que viviam sob um sistema extremamente autoritário, sendo que muitos deles acabaram pagando o preço disso com suas próprias vidas.


Subcultura Própria

Nicola Wenge, historiadora do Centro de Documentação sobre o Nazismo em Colônia (cuja sede fica em um dos antigos quartéis da Gestapo), "os Piratas Edelweiss criaram sua própria subcultura nas regiões do Reno e do Ruhr, ao usar determinado estilo de roupas, cantar suas baladas românticas e, mais tarde, canções antinazistas".

Ao contrário do que determinavam as normas do regime, o movimento permitia a interação entre garotos e garotas, que viajavam juntos pela região, levando com freqüência um violão e uma gaita. "Por esta razão, eram perseguidos pela Juventude de Hitler, pela polícia e pela Gestapo. E até mesmo pela Justiça, que os tratava como criminosos e delinqüentes sexuais", conta Wenge.






Sabotagem e Riscos

Quando os aliados bombardearam Colônia e a ordem pública foi se desestabilizando aos poucos, os Piratas Edelweiss começaram a sabotar fábricas de munição e a colocar, por exemplo, água com açúcar nos tanques de gasolina de carros pertencentes aos nazistas. Além disso, distribuíam folhetos de propaganda contra o regime. Em 1944, porém, vários adeptos do movimento foram presos. Jülich, que na época tinha apenas 15 anos, passou quatro meses preso em uma cela em Colônia, tendo sido interrogado e torturado pela Gestapo. Outros 13 companheiros dele foram enforcados, o mais jovem deles tinha apenas 16 anos.


Culpa Coletiva e Exceções

Para a historiadora Wenge, os Piratas Edelweiss deveriam ser reconhecidos oficialmente como vítimas do nazismo, embora ela alerte para uma certa cautela no uso do termo resistência neste contexto. "Eu descreveria o movimento como uma conduta de oposição", opina Wenge, lembrando porém que distribuir panfletos, disseminar slogans contra o regime nos muros da cidade ou remover bandeiras nazistas eram ações que exigiam uma boa dose de coragem.

O reconhecimento do que foi feito pelos Piratas Edelweiss toca mais uma vez em um tema sensível na Alemanha: a culpa coletiva pelos horrores cometidos durante o holocausto da Segunda Guerra. Enquanto muitos defendem a idéia de que é preciso reaver a memória sobre o que foi um movimento de resistência ao nazismo, outros aconselham cautela em relação à tendência de supervalorizar comportamentos que foram uma exceção, se comparados ao da maioria da população na época.


Rumo ao "Rio de Schaniro"?

O desejo de abandonar a Alemanha nazista foi certamente um dos elementos que acompanharam estes adolescentes durante o período. No porão da casa onde estiveram presos os Piratas Edelweiss, pode-se ler a inscrição Rio de Schaniro encravada na parede. "Supõe-se que se trata de uma referência a Quando as Sirenes Ressoam, uma das várias canções que falam de lugares longínquos", diz Jan Krauthäuser, um dos responsáveis pelo projeto de produção do CD Foi em Xangai.

"Esta postura não é atípica na história da cultura alemã e durante a repressão, através da ditadura nazista, foi ainda mais alimentada. Sabemos de várias vítimas do nazismo, que durante ou depois da guerra procuraram outros lugares para viver. Mas se, concretamente neste caso, há ex-Piratas Edelweiss que chegaram a ir para o Rio ou para outros lugares do Brasil não sabemos. Para nós, seria muito interessante entrar em contato com possíveis Piratas Edelweiss brasileiros, se é que eles existem", completa Krauthäuser.


sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

História do Northern Soul




Você mora numa cidade perdida em algum lugar do norte da Inglaterra. Centenas de fábricas ocupam o horizonte com chaminés, poluindo o céu com um vômito de fumaça cinzenta e escura. Durante a semana, em uma dessas fábricas, você trabalha numa escravidão das nove às cinco: manejando na linha de produção, varrendo o curral, removendo merda. O trabalho é ingrato, mas ele te paga o suficiente para você viver. Mais importante, ele te paga o suficiente para você sair e dançar. Porque embora a fábrica talvez seja seu trabalho, isso certamente não é a sua vida. Todos os finais de semana, você viaja para outras cidades perdidas do norte, se veste legal, se entope de drogas e dança pra valer músicas obscuras de soul music, sonhando o tempo todo com cantores de impossíveis lugares glamourosos como Detroit, Chicago e Philadelphia. Sua vestimenta é fora de moda, mas bastante prática. Das suas polos brancas da Fred Perry descendo para seus sapatos de sola de couro Ravel, tudo que você veste é para conforto e agilidade. As drogas que você toma também são práticas: um exército de anfetaminas, engolidas para o único propósito de deixar você na pista de dança até o amanhecer. Você dança discos de artistas desconhecidos, de gravadoras que ninguém conhece, cantando canções que pouquíssimas pessoas escutaram até hoje. Porém são esses discos que são seus únicos tesouros, os únicos que você gasta dezenas de pounds - as vezes até milhares - do seu magro salário para adquiri-los. Seus amigos, ainda no rock progressivo ou então descobrindo os moldes pop-glitter do glam rock e Bowie, riem de você. Eles não entendem o mundo secreto que você habita. Eles não entendem as roupas, a música e os rituais da sua existência underground. Na sua cabeça, você faz parte de um grupo fechado, você pertence a um dos mais puros e descontaminados movimentos musicais de todos os tempos. Você é um “Northern Soul boy”.

A Primeira Cultura Rave

Exatos quinze anos antes da cultura rave chamar atenção para sua existência, Northern Soul apareceu com quase um plano total. Aqui havia uma cena onde garotos da classe trabalhadora saiam juntos em grande número, vindos de vários lugares e distâncias, para lugares obscuros, para tomar drogas e dançar músicas que ninguém mais se importava. Foi uma cena em que união era tudo. Foi bastante ignorada ou tratada sem respeito pelos sofisticados jornalistas musicais ou pelos clubs de Londres, permitindo que ela se desenvolvesse vastamente, sem perturbação ou observação. E, como no movimento rave (em que a “essência do movimento” divergiu do lado mais mainstream da cena na tentativa de preservar o espírito original da música), Northern Soul acabou num dramático final, assim como os DJs progresivos encontraram sua política/mente musical mais aberta, com forte oposição dos tradicionalistas, a “essência do movimento”. Northern Soul tem sido amplamente descrito como um não-influente movimento musical, mas de fato ele foi um passo muito importante para a criação da atual cultura club e também para a evolução dos DJs. Muitos dos primeiros discos que atingiram as paradas na Inglaterra decorrentes dos clubs vieram dos clubs de Northern Soul. E foram os DJs de Northern Soul que introduziram muitas das inovadoras artes ‘estilosas’ de discotecar e certamente não foi coincidência que o primeiro DJ com aptidão suficiente para tocar House veio de um passado Northern Soul. De fato, até a Disco-Music emergir em New York, graças ao Northern Soul e clubs como Catacombs e Twisted Wheel, a cultura britânica de DJ estava muito mais avançada do que na América. O que o Northern Soul trouxe ao DJ foi obsessão. Pois isso cravou uma incrível recompensa na cultura da raridade musical, fez dele um obsessivo e compulsivo colecionador de vinil. Isso ensinou à ele o valor de discotecar discos que ninguém tinha, de gastar meses, anos e milhares de pounds na procura daquela canção inédita que poderia trazer o público, a audiência sob seu domínio. Mandou o DJ atravessar oceanos para caçar em empoeirados e miúdos armazéns de discos por clássicos desconhecidos, que sua concorrência não tinha e não poderia tocar. Northern Soul mostrou ao DJ como transformar o vinil em pó de ouro.

Um Gênero Construído do Fracasso

Falando de um modo geral, Northern Soul foi a música feita por milhares de cantores e bandas que copiavam o som de Detroit da Motown nos anos 60. A maioria deles foi um tremendo fiasco em sua época e cidade - foi a música de artistas sem sucesso, de miúdas gravadoras e pequenas cidades, todas perdidas na vasta expansão da industria do entretenimento nos EUA - mas no norte a Inglaterra do final dos anos 60 até o auge no meio dos anos 70, isso era apreciado e exaltado. Northern Soul foi rotulado assim por causa do lugar onde ela era tocada e curtida, e não onde foi criada. A palavra “northern” dentro do Northern Soul refere não à Detroit, mas Wigam. Não à Chicago, mas Manchester, Blackpool e Cleethorpes. Fundar um gênero em volta do amor à uma música que o resto do mundo tinha esquecido era mais ou menos como se encontrar com uma porção de amigos e falar Latim, mas nos clubs baseados no parque industrial do norte britânico, era exatamente isso que acontecia. Isso poderia ter sido por que seus hábitos de tomar drogas demandavam um certo estilo de música, por causa desse rápido e libertador estilo - originado de Detroit, a cidade “motor” - de certo modo gerou essa existência mecanizada. Também poderia ter sido simplesmente por que eles eram resistentes em ver seu estilo de música preferido morrer do nada e ver que o resto do mundo estava cansado disso. Seja lá qual for a razão, esses jovens da classe trabalhadora (quase todos brancos), do norte inglês começaram a celebrar uma série de discos que foram completos fracassos dentro do seu contexto original. O culto por algumas músicas tornou a cena de clubs underground bastante próspera. Por muitos anos, por ser tão independente, a cena também era muito pura. Northern Soul era inteiramente uma cena de clubs, por isso não precisava ser aprovada pelas paradas, não precisava dos hits universais. E porque era um movimento retrô, não tinha a necessidade de ter novas bandas, jovens novas estrelas. Na verdade, pelo fato dos discos terem sidos feitos e lançados anos atrás, não precisava absolutamente de nada da indústria da música. O que era preciso, entretanto, era um exército de dedicados e inteligentes colecionadores determinados a descobrir discos suficientes para dar continuidade à cena. Sem novos discos sendo descobertos e tocados, isso poderia rapidamente resultar em nada mais do que uma sociedade de apreciadores das mesmas velharias de sempre. Com sorte, haviam muitos incentivos para viagens de descobertas de novos discos. Northern Soul tinha um apelo particular para colecionadores, já que era uma cena construída quase que inteiramente por raridades. Um disco não poderia ser somente bom, tinha que ser raro também. Se uma faixa soasse como se ela tivesse sido gravada em algum lugar de Detroit, era muito melhor (embora algumas músicas fossem realmente gravadas em um lugar de Detroit). Acima de tudo, havia um fato atrativo que uma coleção de discos de Northern Soul era - na teoria, pelo menos - ‘completável’: afinal já que apenas discos feitos com um certo estilo em uma certa época em um certo lugar eram aceitos, havia um estritamente finito número de bons discos a serem descobertos e possuídos. Trabalhe obsessivamente e você poderia um dia ter um set absolutamente completo de uma discotecagem Northern Soul. Ainda, dado esse fetiche por vinil, o prestigio que existia ao encontrar novos discos era enorme. Nesse mundo fechado, o homem que descobriu uma música como “There`s a Ghost In My House” de R. Dean Taylor ou “Tainted Love” da Gloria Jones poderia se banhar de admiração dos outros e ser bastante adorado pelo público. Um DJ com uma música exclusiva poderia ver seu público aumentar rapidamente e seu status se elevar. O valor dos discos subia por conseqüência. “Quando você encontra um disco desconhecido, é como ver um bebê nascer”, reflete Ian Dewhirst, um importante DJ de Northern Soul. “Você ouve ela em casa e se maravilha que essa faixa funcionará. E logo você vê sua visão confirmada. Imediatamente a música se torna “quente”. Ver um disco desconhecido ir do valor zero a ser bastante valorizado, era quase que uma carta na manga”. Nos clubs, os jovens dançavam e se guiavam dentro de uma grande excitação e êxtase com os últimos tesouros da América. Pôsteres para o público indicavam não apenas o DJ que estava lá, mas também os discos raros que ele poderia tocar. Dado essa atração doentia sem precedentes por discos, a caça pelos sons mais raros foi comicamente uma longa tortura. Apesar da recompensa financeira ser desproporcional, não havia carência de corajosos exploradores com uma passagem na mão para o ‘novo mundo’, confiantes de que eles poderiam retornar, não com uma caixa de empoeirados e esquecidos singles 7” polegadas, mas com uma caixa cheia de jóias e pérolas.`

The Twisted Wheel e as Raízes do Northern Soul

Quando Eddie Holland, Lamont Dozier e Brian Holland ouviram o novo hit dos The Four Tops em 1965 pela Motown chamado “I Can`t Help Myself” (o primeiro havia sido “Ask The Lonely”, do ano anterior), perceberam que ele poderia ser bastante influente para uma estranha turma de DJs obcecados por soul-music no norte da Inglaterra. Da abertura com salva de bateria, baixo e piano até os grandiosos arranjos de cordas, e ressonantes e rítmicos vibrafones que serviam de base para a voz de Levi Stubbs, isso rendeu um padrão, uma forma para o Northern Soul. “I Can`t Help Myself” tinha exatamente o tipo de sonoridade que eles queriam no Twisted Wheel. Neste club simples com clima de porão, perto do centro de Manchester, por volta de 600 garotos se espremiam todos os sábados à noite e dançavam os sons mais raros do país. Dançavam até 7h30 da manhã de domingo. O Twisted Wheel abriu em novembro de 1963, localizada em 26 Brasenose Street, como um lugar que varava a madrugada, tocando um mix de blues, early-soul, bluebeat e jazz (no dia 18 de setembro de 1965 ele se mudou para uma segunda localidade, em 6 Whitworth Street). A novidade das festas que varavam a madrugada rolou por um tempo e foi sem dúvida o primeiro a alimentar esses garotos. Mas em dois anos, como o costume nos clubes mudou significantemente, o Wheel poderia se tornar um raro oásis para tal música. Em Londres e no sul, o rock underground começou a dominar. Mas nos clubs do norte, essa tendência não virou moda, não pegou. Talvez por causa que o norte, predominado pela firme classe trabalhadora, se prendeu numa tendência de sessões de soul que se estendia madrugada adentro. Talvez isso rolava simplesmente porque a cultura pop se espalhava mais devagar do que agora. As comunicações entre Londres e o resto do país eram certamente mais limitadas e as únicas revistas relevantes de música se especializaram em rock e pop. Então os “wheelites” (freqüentadores do Twisted Wheel), cheios de felicidades, não estavam cientes de que estavam se tornando um anacronismo, continuando a dançar os contagiantes discos de soul que eles tanto amavam. Havia uma boa razão para o clima rápida das músicas tocadas no Wheel. Sua clientela era presa à velocidade. Eles consumiam pastilhas inteiras de comprimidos de tarja preta, como os prellies e dexys (drinamyl, preludine e dexedrine), tanto comprados dos traficantes dentro do club ou roubados das farmácias. Não era raro freqüentadores que estavam indo para o club pararem no meio do caminho para entrar numa farmácia e roubar essas drogas, e assim conseguir seus sustento para mais uma noitada. “Esses caras ‘bad boys’ tinham que patrulhar de vários jeitos em Wigan,” lembra Ian Dewhirst, “e olhar para as lojas farmacêuticas que não tinham uma boa segurança. E não importava por onde eles entravam, você poderia quase apostar sua vida que alguma farmácia seria assaltada.” Abastecidos por essas anfetaminas, eles dançavam de várias maneiras um específico tipo de música. O tempo rítmico era tudo. Para rolar isso no Wheel, uma música tinha que ser energética o suficiente para deixar agitado os “speed-freak-dancers” - impulsionada por uma urgente e pesada batida Motown, com trompetes e instrumentos de cordas e com um melodramático vocal negro. Essa música não era funkeada, mas era rápida. As letras não falavam de sexo, mas sim sobre amor; melodias sentimentais que provia a trilha sonora da libertação da mente dos trabalhos monótonos das fábricas. “O Twisted Wheel era um lugar incomum, pequeno, com cinco ambientes e pisos de pedra”, lembra Dave Evison, que mais tarde discotecou no Casino, em Wigan. “Bicicletas estacionadas em todos os lugares que você olhava. Levei quatro semanas pra descobrir onde o DJ ficava: ele ficava escondido atrás de uma pilastra velha de metal! Como parte da dança, os garotos costumavam correr e dar pulos, e ver quão alto eles conseguiam pular. Foi uma coisa jovem, ansiosa. Havia um respeito pelos disc jockeys; havia um respeito pelo que ele tocava. Foi uma boa cena”. O que era extraordinário era a mobilidade dos ‘clubbers’ que começaram a ir lá. Aficionados por soul viajavam vários quilômetros para chegar no Twisted Wheel. Se você achava que ninguém tinha sido capaz de deixar sua cidade e ir dançar em outra cidade até a época das raves, pense novamente: esses garotos estavam fazendo isso não em 1989, mas em 1969. “Uma das partes da diversão era de fato viajar até lá”, relembra Carl Woodroffe, que como Farmer Carl Dene iria se tornar um dos DJs pioneiros da cena. “E as rodovias não existiam como elas são agora. A M6, por exemplo, não iniciava até que você fosse no norte de Cannock para ir para Manchester”. Cobertos por roupas normais, ‘wheelites’ como Dene faziam uma jornada até Manchester antes de se ‘transformar’ com ternos bem passados, camisas justas e gravatinhas estreitas. Este estilo, que predominava no Wheel, veio para esses clubbers oriundo dos mods do começo dos anos 60. E, sem dizer respeito ao calor do club, esse era o jeito que você tinha que ficar até voltar pra casa. “Você ficava encharcado de suor, mas tinha que ficar com o terno até sair do club” ri Dene. “Mas com o terno sempre era uma boa forma de você chegar nas garotas. Era ótimo aquilo”. O primeiro Twisted Wheel na Brasenose Street foi onde originou a sonoridade do Northern Soul. O DJ residente Roger Eagle tinha um gosto eclético pela black-music, tocando o blues do Little Walter, o jazz moderno e pesado do Art Blakey, mixando isso com Solomon Burke e o som da Motown do começo. Embora importações fossem escassas no começo dos anos 60 na Inglaterra, ele foi fazendo dinheiro importando discos em xadrez da América, e tocando esses discos desde o começo do Wheel. Entretanto, Eagle viu os ‘speed-dancers’ ditar cada vez mais o clima de seu set. Eventualmente ele ficava frustrado com a cena de anfetaminas que rolava no Wheel, forçando seu eclético playlist em direção a um único e forte clima e tempo rítmico. “Eu comecei o northern soul, mas de fato achei a música muito limitada”, ele conta, “porque nos primeiros dias eu tocava uma música da Charlie Mingus, depois mandava um hit, seguido por uma canção do Booker T., depois uma do Muddy Waters ou do Bo Diddley. Gradualmente, havia essa adoração por uma espécie de som. Quando comecei a discotecar, podia tocar o que queria. Mas depois de três ano, tinha que me limitar a um único tempo rítmico, o que é o que o northern soul é”. Claramente, na época que o Wheel se mudou para a Whitworth Street, essa música tinha se encolhido consideravelmente. Os últimos DJs residentes - Phil Saxe, Les Cokell, Rob Bellars, Brian Phillips e Paul Davies - se concentraram em ritmos mais agitados e rápidos. Naquele tempo, o Wheel era o lugar para se tocar. “Oh, era um lance meio cult no Wheel se você discotecasse lá”, conta Bellars, rindo. “Haviam pessoas implorando para fazer isso!” Embora havia uma considerável variação de estilos e rítmos, os DJs tocavam um soul muito restrito e limitado. “Nós estávamos tocando algo a mais do que era chamado de rhythm and blues, mas depois tocávamos novos lançamentos como Incredibles, Sandy Sheldon e todos os bons discos do EUA. Discotecávamos coisas importadas como “Agent Double-O Soul”, do Edwin Starr. Tocávamos coisas do Revilot e Ric-Tic. Tudo na OKeh veio do Wheel. Eles não eram necessariamente freneticamente rápidos, mas foram os precursores do que ficou conhecido como Northern Soul”. Bellars está preparado para desmentir os falsos boatos que foram espalhados sobre a música do club. “As pessoas diziam que o Wheel só tocava lançamentos britânicos”, ele diz, “mas isso era besteira”. Na verdade, ele e seus amigos caçavam por discos em todos os lugares: da influente loja Corner em Londres, de alguns lugares de Midlands e de lojas americanas, como a Randy, no Tennessee.


Quanto Mais Obscuro Melhor

A razão pela qual os DJs de northern soul eram forçados a ficar ligados nas raridades era simples: no começo dos anos 70, os EUA tinham parado de produzir os discos adequados. A música negra americana mudou do veloz soul-pop da Motown, e seus produtores - ao lado da imensa influencia de James Brown e Sly & The Family Stone - começaram a experimentar outros tipos de ritmos e sonoridade. O soul se tornou funk, e o acento foi para ritmos pesados, ao invés da saudosa melodia. Em Manchester, isso não aconteceu muito. Claro, ainda era uma black music bacana, mas muito funkeada e muito devagar para um público com a mente cheia de pílulas e anfetaminas. Eles precisavam de uma coisa com um pouco mais de urgência do que “say it loud, i`m black and i`m proud” (“diga bem alto, sou negro e com orgulho”). Então os DJs começaram a caçar profundamente e ir atrás de discos antigos que tinham o ritmo requisitado e o charme dos instrumentos de corda. Ian Levine, que mais tarde se tornou o disc jockey mais influente do Northern Soul, visitou pela primeira vez o Wheel no final de seu período de oito anos de existência. Ele recorda a mudança como a procura por obscuras velharias começou. “As pessoas estavam cansadas das mesmas músicas velhas - como “You`re Ready Now” de Frankie Valli e “Six By Six” de Earl Van Dyke - que tinham sido tocadas por anos no Wheel. Havia um público, uma audiência faminta nas noites, loucas de pílulas e anfetaminas, que queriam dançar aquele estilo dos discos da Motown”, diz Lavine. “Rob Bellars descobriu que se descobríssemos esses discos difíceis de achar, a cena sobreviveria”. Essa caça desvendaria um vasto universo de discos de soul negro (e, eventualmente, alguns execráveis brancos, também), até então desconhecidos. Ligeiros o suficiente para a diversão da juventude de ficar louco de pílula, e alguma vezes legais o suficiente para se destacarem e virarem hits pop. E conforme eles iam penando nas procuras pelo tipo certo de disco para suas pistas de dança, esses DJs estavam também aprendendo a trabalhar com o público - representando um tipo de sofisticação ao que emergiria em New York anos mais tarde. Não havia falas entre as músicas, apenas uma seqüência pura de soul com picos para deixar os “speed-freak-dancers” felizes. “Muitos DJs tocavam músicas numa certa ordem, por causa do jeito que as pessoas dançavam” lembra Bellars, descrevendo como ele tocava uma seqüência de três músicas do Bobby Freeman, “The Duck”, "C`mon And Swin” e “The Swim”, nessa ordem, porque elas construíam um tempo rítmico. “Você construía isso gradualmente, e em seguida tocava cinco músicas rápidas na seqüência. Depois você desacelerava um pouco, senão a coisa ficava maníaca”. Os visitantes do Wheel ficavam impressionados com o que viam. “A dança é sem dúvida a mais legal que eu já vi fora dos EUA”, escreveu Dave Godin, um colunista de black-music no Blues & Soul e o homem que começou a operação Tamla Motown na Inglaterra. Todo mundo lá era um experto nas ‘palminhas soul’. Nos lugares certos, e com uma selecionada e penetrante qualidade que adicionava algo a mais na apreciação da soul-music. Não havia uma influência oculta de tensão e agressão, como às vezes encontrávamos nos clubs de Londres, mas sim um benevolente e bondoso espírito de amizade e camaradagem. Notando a força da cena do soul no norte, Godin, que morava em Londres, foi a pessoa que criou o rótulo “Northern Soul”. Em 1970, inspirado pela sua primeira visita ao Twisted Wheel, Godin empregou o termo “Northern Soul” (soul do norte) em sua coluna no Blues & Soul. Godin abriu uma loja de discos chamada Soul City em Londres, na Monmouth Street, no bairro de Soho. Ele primeiro percebeu as diferenças de gosto entre o norte e o sul quando o pessoal do norte, vindo de viajens de jogos de futebol, procuravam por um som específico. “O que eu notei foi que as pessoas que vinham do norte não estavam comprando o que subseqüentemente foi chamado de funk”, diz Godin. “Aí eu comecei a usar o termo ‘northern soul’, que era pra quando tivessemos a loja cheia de sujeitos do norte, tocaríamos só northern soul para eles. Foi assim que o termo pegou”. O Twisted Wheel de Manchester concedeu muito da parte essencial do que ainda viria. Ajudou a inspirar o nome da cena, começou com a caça obsessiva dos DJs por discos raros e desconhecidos, deu a ele um mar de contatos de devotados (e musicalmente entendidos) ‘clubbers’, e lançou o começo de uma intensa afeição entre a jovem (e branca) classe trabalhadora do norte e a black-soul-music americana. E também se consolidou como o principal club da Inglaterra. No mesmo período, New York tinha os clubs mais luxuosos, a clientela mais bonita e um sistema de som que dava vergonha se comparado com o do Twisted Wheel. Mas isso não era importante. Culturalmente e musicalmente, o que estava rolando no norte da Inglaterra era anos luz a frente do que em qualquer outro lugar. Inspirados pelo Wheel, uma porção de clubs apareceram, enriquecendo ainda mais o contato entre DJs, fãs e colecionadores. Leicester tinha o Oodly Boodly (depois o Noght Owl), havia o Mojo em Sheffield (onde o DJ era o jovem Peter Springfellow), o Dungeon em Nottingham, o Lantern em Market Harborough e o Blue Orchid em Derby. Em Birminghan, tinha o Whiskey-A-Go-Go, que varava a madrugada e era informalmente conhecido como Laura Dixon Dance Studios. Entretanto, nenhum desses foi tão influente como o Twisted Wheel. Foi aqui que, em um porão em Manchester, uma geração de colecionadores, ‘clubbers’ e DJs se apaixonavam pela soul music. Fatalmente, a reputação do Wheel como paraíso de drogas extrapolou, culminando com o seu fechamento pela polícia de Manchester no começo de 1971. Ele só poderia ser reaberto se houvesse uma cooperação com a polícia, para que os tiras ficassem dentro do club durante toda a madrugada. Houve cenas emocionantes na última noite. “Sabíamos que ia fechar”, diz Rob Bellars, “e as pessoas choravam”. Vendo o legado do Twisted Wheel em junho de 1974, um ‘soul-boy’ disse para a Black Music: “algo mudou quando o Wheel fechou. Você sabe, nunca mais haveria essa mesma cena musical “tudo-pela-boa-música”.


O Catacombs e Farmer Carl

Um club inextricavelmente linkado com o Twisted Wheel era o Catacombs em Temple Street, Wolverhampton. Apesar do seu horário de fechamento cedo (fechava à meia-noite) ter limitado uma influência direta, foi aqui que muito do menu iniciante do Northern Soul foi traçado. Seu DJ, Farmer Carl Dene, fez mais do que talvez qualquer outro em construir sólidas fundações para o Northern Soul. Ele foi provavelmente o primeiro DJ na cena a se empenhar em descobrir discos raros, e um dos primeiros em sacar que ter mais raridades do que sua concorrência poderia ser de fato uma parte criativa da discotecagem. E por introduzir e emprestar discos aos DJs no segundo Twisted Wheel, ele foi responsável pela explosão de muitos hinos no começo do Northern Soul. Farmer Carl Dene (“farmer” veio de um chapéu que ele vestia; Dene ele achou um belo nome artístico), nasceu como Carl Woodrofle. Ele descobriu a soul music como primeiramente um freqüentador do Whiskey-A-Go-Go em sua cidade natal Birmingham. Depois no Mojo, em Sheffield, e no próprio Twisted Wheel. “Acho que foi por causa que você não podia ouvir isso em lugar nenhum”, ele diz, “Era único. Você não ouvia nas rádios. Você não ouvia isso em um club normal. Você tinha que ir e escolher um lugar; e havia apenas alguns desses lugares”. Um colecionador fervido, ele começou a discotecar no La Metro em Birmingham, depois no Chateau Impney em Droitwich e depois, no mais conhecido, Catacombs. Farmer Carl não apenas tinha bons discos, como raros também. Discos que ninguém tinha. Ao invés de tocar a versão mais famosa de uma música, ele ia atrás da cover mais crua, menos familiar e fazia dela famosa. Um exemplo é a fantástica “I`m Not Going To Work Today”, pelo Boot Hog Pefferley And The Loafers. Essa faixa tinha sido um hit não muito importante da Clyde McPhatter, mas Carl preferia a versão mais obscura. Ele comprou sua cópia no Roger Eagle. “Aquilo realmente me impressionou”, ele lembra. “Então eu comprei por 110 pounds, o que é uma puta grana!” “Ele foi o único que descobria discos que eram tocados no Wheel”, diz Ian Lavine, o único dos DJs que vê Farmer Carl como um mentor da cena. “Ele achou o álbum do Richard Temple chamado “That Beating Rhythm” pelo selo Mirwood Records. Ninguém acreditava que isso existia. Você tinha que ir ao Catacombs para ouvir”. Dene também introduziu o Sharpee com “Tired Of Being Lonely”, Gene Chandler And Bárbara Acklin’s com “From The Teacher To The Preacher” e o clássico northern soul Doris Troy com “I’ll Do Anything” (Troy depois fez os backing vocals para “Dark Side Of The Moon” do Pink Floyd). “Farmer Carl era o único que eles ‘endeusavam’”, declara Levine. Haviam outros DJs influentes, incluindo um renomado colecionador de Gloucester, conhecido como Docker. Ele fazia a alegria dos fãs de soul no Wheel, por carregar uma maleta de discos com tranca. Uma das gemas dentro dessa mala super segura era a única cópia no país do Leon Haywood de “Baby Reconsider”, agora respeitado como um clássico do Wheel. Embora a cena ainda estivesse em seus anos de formação, ela já tinha uma influência na ampla indústria da música - foi esse embrionário movimento do norte que semeou os primeiros “chart-hits” que vieram dos clubs ao invés das rádios. Quando a música “Just A Little Misunderstanding” de Contours 45 (originalmente gravada em 1965 e re-escrita por Stevie Wonder), alcançou as paradas de sucesso em janeiro de 1970, isso proclamou uma nova era na dance music na Inglaterra. Tami Lynn com “I’m Gonna Run From You”, do selo Polydor de John Abbey, distribuído pela Mojo Records, que alcançou a quarta posição nas paradas em maio de 1971, breve se sucedeu. Abbey, como o fundador e dono do Blues & Soul, estava em posição privilegiada em ver possibilidades para essa música. A confirmação desse novo fenômeno veio quando a música “Hey Girl Don’t Bother Me” de Tam, uma canção que Farmer Carl Dene fazia breaks no instrumental dela, chegou a n. 1 em Julho de 1971 na Inglaterra. “Todo mundo, particulamente as garotas, ficou louco com isso”, ele diz. “A companhia re-editou a música e Peter Powell, que era da Stourbridge, perto do Chateau em Droitwich, ouviu e a trouxe para a rádio. Ele se ligou no clamor da música”.





Outras fontes de Informação sobre o assunto:www.northern-soul.comwww.6ts.info/www.northernsoul.co.uk/ns/
*Este texto foi retirado do livro que conta a história dos DJ's e que tem um capítulo exclusivo sobre a cena Northern Soul. (vou achar o nome do livro e passo para quem tiver interesse em saber um pouco mais sobre djs e suas fases na história da música. Se não me engano o livro é todo em inglês. Este texto foi traduzido por Marcio Custódio*
RETIRADO DE
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