sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Provos, Kommune 1, Motherfuckers, Yippies e Panteras Brancas

Provos, Kommune 1, Motherfuckers, Yippies e Panteras Brancas*
Stewart Home

No início do verão de 1965, um panfleto apareceu na cidade de Amsterdã, pedindo que grandes quantias de dinheiro fossem enviadas para o endereço editorial de uma nova revista chamada PROVO. O panfleto afirmava que a nova revista era necessaria:

"— porque essa sociedade capitalista está envenenando a si mesma com uma necessidade mórbida por dinheiro. Seus membros são levados a endeusar o Ter e desprezar o Ser.
— porque essa sociedade burocrática está se chocando com ela mesma, reprimindo qualquer forma de espontaneidade. Seus membros só podem tornar-se pessoas individuais e criativas através de condutas anti-sodais.
— porque essa sociedade militarista está cavando sua própria cova com a construção de armas atômicas paranóicas, e seus membros não podem esperar nada do futuro, a não ser morte certa por radiação atômica."

O primeiro número da PROVO apareceu logo depois e foi imediatamente confiscado pelas autoridades, por conter um diagrama reproduzido do manual The Pratical Anarchist, de 1920, que supostamente instruía o leitor na produção de explosivos. Na verdade, a técnica não funcionava. Esse e outros escândalos fizeram com que a circulação da PROVO subisse de quinhentos para vinte mil exemplares por ano.


Os primeiros ativistas do PROVO — entre eles Roal Van Duyn (nascido em 1942), Rob Sroik, Robert Jasper Grootveld (nascido em 1932), Simon Vinkenoog, Bart Huges e o ex-situacionista Constant — tinham origens basicamente anarco-comunistas e criativas. No entanto, as satíricas ações político-culturais dos PROVOS fizeram com que a juventude insatisfeita de Amsterdã logo se juntasse ao que rapidamente se tornou um movimento.

Amsterdã era considerada um centro mágico e no seu coração estava o Spui, onde, próximo da estátua de um pequeno menino chamado Lieverdja — e rotulado pelos PROVOS de consumidor viciado —, Grootveld vinha organizando happenings semanais desde 1964.

Os PROVOS elaboraram uma série de “planos brancos”: soluções para problemas sociais e ecológicos da cidade, que funcionavam também como provocações às autoridades holandesas. Entre os mais famosos está o Plano de Bicicletas Brancas. Os PROVOS anunciaram num panfleto que bicicletas brancas seriam espalhadas pela cidade para serem usadas pela população em geral. O protótipo desse transporte comunitário gratuito foi apresentado à imprensa e ao público em 28 de julho de 1965, perto da estátua de Lieverdja. O plano foi um enorme sucesso como uma “provocação contra a propriedade privada capitalista” e o “monstro do carro”, mas fracassou como experimento social. A polícia, aterrorizada pela idéia de propriedade comunitária sendo deixada nas ruas, confiscou todas as bicicletas que acharam sem dono ou sem corrente.

Os PROVOS ficaram famosos entre a comunidade médica holandesa quando Bart Huges — um de seus líderes — perfurou um buraco em seu crânio. Huges acreditava que as membranas dentro de sua cabeça poderiam expandir-se como resultado do espaço extra que havia criado, aumentando assim o volume de sangue — e portanto oxigênio — que poderia circular em seu cérebro. O resultado, afirmava Huges, era parecido com a consciência expandida através de exercícios de yoga, ou uma viagem de LSD, mas nesse caso os benefícios seriam permanentes.

A reputação internacional dos PROVOS vem do ataque à procissão do casamento da Princesa Beatrix e do Príncipe Claus von Amsburg, com bombas de fumaça, em maio de 1966. A polícia revidou imediatamente, batendo selvagemente nos manifestantes contrários à monarquia. No entanto, o povo de Amsterdã demonstrou seu apoio à causa PROVO, votando num representante do movimento para vereador nas eleições locais, três semanas depois. Depois disso, tornou-se claro que era apenas uma questão de tempo até que as atividades radicais do PROVO fossem reprimidas pelas autoridades holandesas, e assim, na primavera de 1967, o movimento se dissolveu.

Ao mesmo tempo, em Berlim, o ex-situacionista e ex-membro do Grupo Spur, Dieter Kunzelmann, ajudou na formação da Kommune 1. A comuna juntou-se em março de 1967, e seus membros introduziram ações freaks e happenings políticos ao ambiente conservador da Alemanha. Por suas agitações, foram expulsos da Associação Socialista de Estudantes Alemães. Mas o ódio que suas atividades causavam, vindo tanto de tradicionalistas de esquerda como de direita, apenas aumentava o prestígio do grupo com os mais jovens. Eles logo se tornaram os heróis de estudantes, dos dois lados do Muro de Berlim. A “comuna do terror” (como era chamada pela imprensa alemã) borbulhava agitação política e cultural. Foi na comuna, e através de encontros com seus membros e simpatizantes, que futuros terroristas como Bommi Baumann, do Movimento de 2 de Junho, se radicalizaram. Uma das intervenções mais famosas da comuna aconteceu depois de um incêndio numa loja de departamentos em Bruxelas. Foi lançado um panfleto intitulado “Quando as Lojas de Departamento de Berlim Irão Queimar?”:

"Nossos amigos belgas afinal aprenderam como podem efetivamente atrair a atenção do público para as luxuriosas atividades no Vietnã. Eles botam fogo numa loja de departamento e em trezentos cidadãos saciados com suas fascinantes vidas e Bruxelas transforma-se em Hanói. Ninguém mais precisa derramar lágrimas pelos pobres vietnamitas enquanto lê seu jornal numa opulenta mesa de café da manhã. Hoje só é necessário ir até o departamento de roupas da Ka De We, Hertie, Woolworths, Bika ou Neckerman, e discretamente acender um cigarro no trocador...”.

Apesar do panfleto — e a sugestão de que o incêndio em Bruxelas fora provocado por militantes contra a Guerra do Vietnã — ser claramente uma piada, a imprensa ficou chocada. Mais uma vez a Kommune 1 foi o foco da atenção pública, fazendo com que ficasse cada vez mais difícil para a burguesia repousar tranqüilarnente em suas camas.

Enquanto isso, em Nova York, ex—trabalhadores culturais estavam para renascer como lutadores de rua: os Motherfuckers (palavrão equivalente a “filhos da puta”). Os Motherfuckers (ou “Bota a cara na parede, Motherfucker” com a ilustração de um freak sendo intimidado pela polícia) se organizaram na facção rio Lower East Side dos Estudantes por uma Sociedade Democrática; mas antes desse breve flerte com a política da Nova Esquerda, eles haviam se agrupado em volta de uma revista inspirada no Dadá, chamada Black Mask. Encarnando o grupo Black Mask, sua principal atividade pública era atacar aberturas de exposições em galerias, palestras em museus e concertos de rock. Como Motherfuckers, e mais tarde Werewolves (lobisomens), sua atividade centrou-se em duas frentes — invadir reuniões de esquerda e conduzir uma campanha de atentados — sob o slogan de “Amor Armado” — contra bancos e outros alvos simbólicos.


Outro grupo ativo na mesma época, porém mais preocupado com golpes teatrais do que com ação direta, eram os Yippies (Youth International Party — Partido Internacional da Juventude). Enquanto os Motherhmckers haviam entrado nos círculos freaks pela esquerda de agitação cultural, os Yippies emergiram diretamente da subcultura hippie. Em Nova York, os Yippies organizaram um Human Be-In na Estação Central durante a hora do rush — para a grande inconveniência das pessoas que tentavam voltar para casa — e causaram pandemônio na bolsa de valores ao jogar centenas de notas de dinheiro de um mezanino nos operadores de mercado, que prontamente deixaram seu trabalho para lutar pelas notas. Na Inglaterra, eles causaram ultraje nacional quando invadiram o programa de TV David Frosr Show. A nomeação Yippie de um porco chamado Pigasus para presidente foi parte da intervenção em Chicago, durante a Convenção do Partido Democrata de 1969, oito radicais de esquerda, entre eles os Yippies Abbie Hoffman e Jerry Rubin, foram levados à corte pelo juiz Julius Hoffman no que ficou conhecido como o julgamento da Conspiração de Chicago. Durante essa audiência, o juiz entrou em várias discussões com os réus e seus advogados. Quando o júri se retirou para considerar seu veredicto, o juiz condenou todos os réus, e seus advogados, a períodos de prisão por desrespeito à corte durante o julgamento. O óbvio preconceito do juiz, ao conduzir o julgamento, e as sentenças que deu foram amplamente criticadas; o Julgamento da Conspiração de Chicago tornou-se o mais famoso da história americana. As sentenças de prisão resultantes mostraram que o capitalismo americano era mais opressivo do que os Yippies imaginavam. O movimento se desintegrou lentamente, na medida em que seus membros descobriram que o sistema capitalista era realmente tão maldoso quanto sua retórica tinha dado a entender.

O Partido dos Panteras Brancas, inspirado pelos Panteras Negras, emergiu do Workshop de Artistas de Detroit, em 1968, mostrando mais uma vez que foram ex-trabalhadores culturais que lideraram a radicalização da juventude americana com o recém-desenvolvido estilo freak de agitação política. O principal objetivo dos Panteras Brancas era levar essa agitação para as escolas, e a banda de rock’n’roll do movimento — o MC5 — era a sua arma mais poderosa para atingir esse objetivo. No entanto, em 1970, John Sinclair (líder dos Panteras Brancas) acusou o grupo de ter se vendido. Nessa época, Sinclair estava na cadeia servindo uma sentença de dez anos por ter passado dois baseados de maconha para um detetive de narcóticos à paisana. Outro Pantera Branca, Pun Plamondon, entrou para a lista dos mais procurados pelo FBI por ter supostamente colocado uma bomba em um prérlio da CIA em Ann Arbor.

O estilo freak de agitação, quando utilizado por aqueles dispostos a agüentar a violenta reação que caía sobre eles, era particularmente efetivo, porque representava alternativas tanto culturais como políticas à dominação capitalista. O sistema, ameaçado pela influência dessa vanguarda violenta, reagiu enfatizando na mídia o aspecto “paz e amor” da cultura hippie. No entanto, os militantes não desapareceram porque a mídia escolheu representar de forma errônea o movimento: na verdade, eles voltaram na forma de guerrilha urbana**.

*Home, Stewart. Assalto Á Cultura: utopua, subversão, guerrilha na (anti) arte do século XX (tradução de Cris Siqueira). São Paulo: Conrad, 1999.
*Obviamente, o grande número de movimentos ativos durante os anos 60 faz com que seja impossível cobrir sequer uma fração deles no espaço disponível aqui. Entre os grupos mais interessantes que omiti estão os Diggers de Emmett Grogan, que passaram o úm dos anos 60 fornecendo comida grátis, roupas grátis, alojamento grátis, etc., para as pessoas nas ruas Haight e Ashbury em São Francisco. Grupos Diggers, inspirados pelas atividades de Grogan, espalharamse mais tarde pelos Estados Unidos e pela Europa. Esses grupos representavam um lado eminentemente prático de um movimento que o sistema muitas vezes acusou de ser idealista e pouco prático.

Teddy Boys


Teddy Boys*
Roy Shuker




Os teddy boys, ou “teds”, originalmente um fenômeno britânico, apareceram em meados dos anos de 1950. Essencialmente sem instrução profissional, os teds foram excluídos da abundância desfrutada pelos jovens. Seu estilo inclui penteados elaborados (o estilo “duck arse”), paletós drapeados, engomados, compridos e pseudo-eduardianos (dai a origem do nome**), sapatos de sola grossa de crepe (“brothel creepers”) e gravatas estreitas. “A apropriação do estilo do vestuário da classe alta pelos teddy boys ‘ocultava’ o fosso entre as atividades profissionais que não exigiam qualificação, basicamente braçais, próximas do mundo lúmpen, e a experiência do sábado à noite, ou seja, a experiência de estar ‘vestido com elegância e não ter lugar algum para ir” (HaIl, S. & Jefferson: 1976; p. 48). Ás preferências musicais dos teds incluíam o início do rock’n’roll e o rockabilly. Nos anos de 1950, na Autrália e na Nova Zelândia, as versões locais dos teds foram chamadas de “bodgies”.


As atividades dos teddy boys concentravam-se em torno do rock’n’roll, dos coffee-bar, dos cafés com vitrolas automáticas e dos pubs. Envolveram- se em brigas em cinemas e salões de baile durante o advento do rock’n’roll, bem como nos conflitos raciais de 1958 no Reino Unido: “os teds eram fundamentalmente proletários e xenófobos” (Hebdige: 1979; p. 51). Nos anos de 1970 e 1980, houve um renascimento “teddy boy”, apesar de o vestuário e o comportamento dos teds “modernos” terem conotações diferentes, mais reacionárias e mais próximas do machismo da classe trabalhadora — sua cultura de origem.



Nos anos de 1960, na Grã-Bretanha, o desenvolvimento dos teds originou os rockers (também conhecidos como bikers ou greasers, principalmente nos Estados Unidos). Os rockers vestiam jaquetas de couro preto, calças jeans e botas, passavam brilhantina no cabelo e dirigiam motocicletas De modo geral, os rockers eram trabalhadores braçais sem quallflcação e mal pagos. A subcultura tinha uma orientação masculina (as adeptas do sexo feminino raramente dirigiam motocicletas). Willis (1978) vé uma homologia entre a masculinidade dos rockers, a rejeição ao estilo de vida da classe média, a motocicleta e a preferência pelo rock’n’roll. A liberdade era o principal valor dos rockers e sua preferência musical era o rock’n’roll dos anos de 1950: Elvis, Gene Vincent e Eddie Cochrane. Entre 1963 e 1964, os rockers entraram em conflito com os mods em locais de veraneio do sul da Inglaterra, originando um pânico moral. Nunca desapareceram inteiramente como subcultura identificável, embora os motoqueiros contemporâneos prefiram o heavy metal.








*Fonte: Shuker, Roy. Vocabulário de Música Pop (tradução Carlos Szlak), São Paulo: Editora Hedra, 1999

**tedd diminutivo de Edward (N.T.)

Beats X Hippies

Beats X Hippies*
Antonio Bivar


Assim como os existencialistas dos anos 40, os beatniks dos 50 — seja por analogia ou pela ordem natural da evolução — mostram muitos pontos em comum com os punks. O gosto pelo escuro, pela roupa preta, pela consciência à esquerda, por exemplo.

Apesar de ter tido como cenário-base a universidade de Colúmbia — onde aqueles que seriam as figuras mais importantes do movimento, Jack Kerouac, Allen Ginsberg e William Burroughs, praticamente se conheceram —, o movimento beat ficaria ligado aos cenários do Village em Nova lorque e da zona boêmia de São Francisco, Califórnia, pelos antros e cafés boêmios de ambas as costas. A postura beat tinha muito de existencialista. Jovens letrados da classe média baixa e alta querendo tudo que fugisse aos rigores escola- família-futuro-vida doméstica. Era o novo sonho de liberdade, a retomada do pensamento filosófico e naturalista de Thoreau e da poesia escrita e vivida por Walt Whitman. A vida aventureira e simples dos hobos (andarilhos, vagabundos) e dos mais pobres. Ricos porque livres. Dormir ao relento, trabalhar em navios mercantes para conhecer a vida rude dos sete mares e as alegrias não menos rudes de cada um de seus portos. Fumar haxixe no Marrocos, meditar na Índia, jogar xadrez ou escrever poemas e romances nos cafés de Paris. William Burroughs em Tânger; Allen Ginsberg no Tibete; Jack Kerouac on the road (pela estrada afora). E o jazz, como frente musical. A pintura abstrata, Jackson Pollock. Os beatniks foram os primeiros a difundir, para a juventude ocidental, o zen-budismo, a meditação transcendental, as experiências da vida ao ar livre, as caronas, a celebração de si mesmo em harmonia com o universo. Kerouac em São Francisco, bebendo vinho barato e comendo pizza; ou alternando cerveja com uísque; ou passando dias e noites trancado e escrevendo sob o efeito excitante da benzedrina e ao som do jazz. Cool jazz: Kerouac dizia que, quando Miles Davis soprava seu trompete, o som era como longas sentenças escritas por Proust. Jack primeiro sonhara ser um moderno Thoreau; depois quis ser o Proust da América, de sua geração, de seu povo; leu Moby Dick e desejou ser o novo Herman Melville. Acabou sendo ele mesmo, um original — On The Road é uma das obras máximas de todo o trajeto da literatura americana. Depois de todo o sonho que ele apregoara ter sido espalhafatosamente vivido pelos hippies, na geração seguinte, Jack Kerouac morreu de desgosto, tédio, alcoolismo, hérnia e uma hemorragia abdominal, em outubro de 1969, na Flórida. Aos 47 anos, jovem ainda.

Dos beats originais, William Burroughs e Allen Ginsberg continuariam na ativa nas décadas seguintes e Ginsberg, em 1982, participaria de uma das faixas do Combat Rock, LP do grupo The Clash, punk.

(...)


Como o leitor está lembrado, os beatniks gostavam mesmo é de jazz. Assim, nos sessenta, o movimento hippie não só assimilou as idéias, a cultura e os sonhos dos beatniks, mas também incorporou o outro lado dos anos 50, o rock ’n’ roll (agora tratado como música pop). E acrescentou um terceiro dado, então novíssimo: o LSD. A junção desses três — cultura beat, a música rock e mais o LSD — despertaria a atenção do mundo. Havia algo de novo e de muito atraente na música, no visual e no que esses hippies tinham a dizer.

Qual será o segredo da beleza (ou da estranheza) desse movimento? Entre outros detalhes “chocantes”, a descoberta e o uso do LSD pelos hippies fez com que o preto — a cor praticamente única dos beatniks (e existencialistas) — caísse instantaneamente em desuso, dando lugar não só ao degradé das sete cores do arco-íris mas também a todas as cores derivadas, E pela primeira vez o mundo ouvia essa palavra: psicodélia.




Em 1969, com o assassinato de Sharon Tate e amigos, pelos seguidores do satânico Charles Manson — a vítima era para ser Doris Day! Nenhuma merecia, convenhamos — a imprensa reacionária, para “cortar o barato”, atiçou que Charles Manson e seu pessoal eram hippies. Só porque tinham cabelo comprido e viviam em comunidade num deserto ali perto. Até podiam ser, pois, assim como tudo, existem hippies e “hippies”. Mas não. Era como se todos os hippies fossem iguais a Manson. E os apavorados do Sistema passaram a olhar os hippies como assassinos em potencial. Então tudo começou a ficar difícil. Ficou tão difícil que em seguida morreriam Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison; os dois primeiros de overdose e o último, numa banheira em Paris, com um sorriso de beatitude nos lábios. Ficou tão difícil que nem bem completara um ano desde o assassinato de Sharon Tate, e John Lennon se via como que intimado a dar o toque de recolher. Helter Skelter, uma das músicas dos Beatles, era a favorita do grupo de Charles Manson, que via nela uma série de mensagens ocultas. Paranóicos.
E assim acabava o sonho de toda uma geração. Mas não tão assim de pronto. Muitos achavam que o sonho estava apenas começando (estes, muito novos, estavam nos seus 1 5, 16 anos) e continuaram vivendo suas experiências nos anos seguintes. Até, digamos, 1973, quando desabou a crise do petróleo e do resto, Crise inclusive do LSD que, aos poucos, foi sumindo do mercado alternativo. Nesse meio tempo muitos foram correndo procurar emprego; outros voltaram para a casa paterna (filhos pródigos); os ajuizados amadureceram; putros retornaram as escolas; teve quem foi ser motorista de táxi e uma quantidade relevante deles casou e mudou; outra ficou perdida; há quem continue sonhando até hoje assim também como aqueles que “não voltaram”. Ninguém sabe exatamente onde estes últimos estão.

O LSD (ácido lisérgico) não foi inventado por cientistas ou químicos hippes e nem é um produto dos anos 60. Não sei agora quem o inventou (dizem que foi inventado por cientistas na Suíça) mas sei que o escritor inglês Aldous Huxley já fizera várias experiências lisérgicas nos anos 30 (ou 40). Huxley até escreveu um livro sobre o assunto, As Portas da Percepção. Um livro que os hippies, claro, devoraram. E também antes dos hippes, em 1961, um beatnik — e qual deles senão Jack Kerouac? — fizera uma única experiência, guiado pelo guru do LSD, Timothy Leary dr. Timothy Leary, em Harvard. Kerouac tomou o LSD e teve uma experiência paranóica, chegando à conclusão de que o alucinógeno em questão havia entrado na América via Rússia, como parte de um complô para enfraquecer os Estados Unidos.

Uma das diferenças básicas entre as pretensões beatniks e hippies — e talvez a mais óbvia delas — é que enquanto Jack Kerouac, no seu tempo, pretendia ser o novo Proust, na movimentação hippie John Lennon chegou a afirmar serem os Beatles mais importantes que Jesus Cristo; e Eric Clapton era considerado DEUS (a imprensa especializada, claro, deve ter tido um dedo nisso tudo). Isso em meio à mensagem maior que era “paz e amor”. E os hippies genuínos realmente desejavam paz e amor ao mundo. Mas era tanta coisa ajudando a “expandir a mente” que, todos os que viajavam e dormiam em sacos de dormir, a título de mera curiosidade ou de total entrega, passavam a maior parte do tempo tendo vislumbres do Divino e do Eterno. Era Mãe Terra nosso planeta. E a Lua, nosso satélite. E lunáticos, não poucos. Lunáticos ou não, para os hippies não fazia a menor diferença. Afinal, um dos santos simpatizados pelo movimento, São Francisco de Assis, numa de suas iluminações medievais dissera: “A loucura é o sol que não deixa o juízo apodrecer”.



Título meramente ilustrativo do exceto do livro O Que é Punk (Coleção Primeiros Passos, n 76). Antonio Bivar. Editora Brasiliense, São Paulo, 2001

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Os Yippies e a Politização do Psicodelismo

Os Yippies e a Politização do Psicodelismo*
Carlos Alberto M. Pereira


Do ponto de vista da história e da organização do movimento hippie, 1967 é um ano especialmente marcante. Foi em outubro, por exemplo, que ocorreu aquela enorme e colorida manifestação pacifista na qual se tentou, nada mais nada menos, que fazer levitar o Pentágono, no melhor estilo do ativismo da época. Mesmo sem entrar no mérito objetivo das técnicas empregadas, é fácil perceber que se trata, no mínimo, de uma nova e curiosa forma de enfrentar o poder. Ainda durante este ano, dois fatos importantes: em São Francisco, verdadeiro berço do hippismo, realiza-se o enterro simbólico do movimento hippie. Um caixão é cremado, enquanto os manifestantes, em uníssono, bradam: “Os hippes morreram! Vivam os homens livres!” Praticamente ao mesmo tempo, Abbie Hoffman e Jerry Rubin fundam o YIP (Youth International Party, o Partido Internacional da Juventude), tentativa de abrir um espaço mais institucionalizado que fosse capaz de canalizar a energia revolucionária de toda aquela juventude rebelde. Entrava assim em cena a figura do yippie, o hippie politizado, expressando talvez o início de uma convergência entre os projetos de revolução cultural e revolução política. Jerry Rubin, ex-líder estudantil em Berkeley, afirmava: “Os yippies são revolucionários. Misturamos a política da Nova Esquerda com um estilo de vida psicodélico. Nossa maneira de viver, nossa própria existência é a Revolução”. Aliás, este esforço de tentar a fusão de um ativismo mais diretamente político com o psicodelismo daquele momento era vivível por toda parte.


Em seu livro Rock, o Grito e o Mito, Roberto Muggiati afirma o seguinte sobre o importante congresso de antipsiquiatria realizado em Londres, no ano de 1967: “No verão de 1967, 0 rock é um dos assuntos estudados em Londres no congresso Dialética da Libertação, organizado pelo psicanalista existencial R. O. Laing e seus colegas da ‘antipsiquiatria’, num esforço para conciliar libertação social e libertação psíquica. São grupos da Nova Esquerda, psicanalistas e sociólogos que debatem, procurando dar forma a uma esquerda visionária e fundir a política radical com a política do êxtase”.


Outro acontecimento que dá mostras desta “politização radical do psicodelismo”, na segunda metade da década de 60, são os distúrbios que envolveram a Convenção do Partido Democrático realizada em Chicago, em agosto de 1968. O episódio se converteu numa das maiores demonstrações do potencial de violência e repressão que o Sistema era capaz de mobilizar contra o protesto organizado de negros, estudantes e hippies, ou yippies. O que se viu foram três dias de intensas manifestações e violentos choques com uma polícia disposta a fazer um uso essencialmente político de sua força, revelando a existência de um verdadeiro plano com o objetivo de assustar e intimidar os manifestantes e tendo como resultado um enorme saldo de mortos e feridos. De uma certa forma, estes episódios demonstravam os limites do liberalismo americano na sua possibilidade de tolerar e absorver a contestação que os grupos ali presentes representavam e engendravam. O resultado final foi o famoso Chicago Trial, o Processo de Chicago; envolvendo diversos líderes dos movimentos ali presentes, como Bobby Seale, do Black Panther Party, Jerry Rubin e Abbie Hoffman, do YIP, ou Tom Hayden, um dos fundadores da SDS (Students for a Democratic Society), e um importante líder da Nova Esquerda, todos indiciados sob a acusação de “conspiração”, embora a falta de provas fosse evidente. Na verdade, o que estava sendo julgado neste momento era a própria identidade de uma geração, com sua consciência crítica e seus ideais de transformação social.


Mas não foi apenas nos Estados Unidos que o ano de 1968 significou um momento de confrontação radical com o Sistema. Também na Europa, este foi um ano decisivo para o movimento estudantil — uma das grandes manifestações do ativismo da juventude rebelde dos anos 60. Quem não se lembra do Maio de 68 francês, com suas barricadas e seus siogans de um radicalismo que em nada se parecia com o das manifestações políticas tradicionais? “Sejam realistas: peçam o impossível”, “O sonho é realidade”, “Temos uma esquerda pré-histórica”, “O álcool mata, tomem LSD”, “Sou marxista, tendência Groucho”, “É proibido proibir” e tantos outros. Do mesmo modo, as universidades alemãs demonstraram durante toda a década, uma incrível efervescência.

Nomes como Daniel Cohn-Bendit, na França, ou Rudi Dutschke, na Alemanha, se tornavam internacionalmente conhecidos.


Enquanto isso, nos Estados Unidos, especialmente Berkeley, Califórnia, e Colúmbia, Nova York, já haviam se convertido em pólos internacionais da luta dos estudantes. A primeira grande revolta estudantil ocorrida em Berkeley, em 1964, teve como um de seus resultados a criação do Free Speech Movement. No ano de 1966, novos e violentos distúrbios viriam a ocorrer na Califórnia — o nome de Mário Sávio se tornava definitivamente conhecido. Em 1968, seria a vez da grande revolta ria universidade de Colúmbia, com forte presença do movimento negro.

Tanto nos Estados Unidos quanto na Europa Ocidental, o que chamava a atenção nesta onda de revolta estudantil que marcou a década de 60 era a sua originalidade em termos da abertura de novos espaços de luta política e da elaboração de uma nova linguagem crítica. Fiel à ideologia da rebelião da juventude internacional, o ponto focal da crítica e do protesto destas fileiras do movimento estudantil era a própria universidade enquanto instituição.


Suas bandeiras de luta, longe de estarem referidas apenas às questões mais gerais do conjunto da sociedade, falavam da sala de aula e das relações mais diretas vividas no espaço específico das instituições de ensino. Quando se questionava a repressão, por exemplo, a ênfase era posta naquela exercida no interior da escola e que se manifestava tanto no dia-a-dia das relações entre as pessoas ali envolvidas, no desempenho de seus papéis, quanto no discurso que sé produzia e reproduzia dentro daquelas instituições. E no bojo deste processo que vão surgir as universidades livres ou as antiuniversidades, com seus currículos radicalmente transformados e sua organização montada em bases muito diferentes das do ensino tradicional, dentro do espírito mais geral da criação de anti ou contra- instituições, que tanto marcava aqueles anos de intenso vigor da contracultura.


Este novo caminho trilhado pelo movimento estudantil internacional era, em boa medida, o resultado do encontro de todas aquelas forças emergentes que a rebelião da juventude havia posto em cena. De um lado, hippies, yippies, negros e uma infinidade de minorias etnoculturais que se organizavam e, de outro, um novo pensamento de esquerda que tentava se ajustar às transformações e à complexidade das sociedades industriais. Era a Nova Esquerda, que vinha se organizando desde o começo dos anos 60. Um de seus frutos no interior do movimento estudantil foi a SDS (Students for a Democratic Society), a maior organização estudantil dos Estados Unidos, com forte presença em vários países europeus, fundada por volta de 1962.


Por sua vez, este discurso crítico que o movimento estudantil internacional elaborou ao longo dos anos 60 visava não apenas as contradições da sociedade capitalista, mas também aquelas de uma sociedade industrial, tecnocrática, nas suas manifestações mais simples e corriqueiras. Nas palavras de um manifesto afixado à entrada principal da Sorbonne durante o Maio de 68: “a revolução que está começando questionará não só a sociedade capitalista como também a sociedade industrial. A sociedade de consumo tem de morrer de morte violenta. A sociedade da alienação tem de desaparecer da história. Estamos inventando um mundo novo e original. A imaginação está tomando o poder”.



Em 1971, foi organizado um enorme congresso em Berkeley, Califórnia, do qual participaram, ao lado de sociólogos e outros cientistas, os principais líderes das comunidades hippies, jovens radicais de organizações estudantis, representantes de minorias como o Gay Power, Women’s Lib, Black Panther e assim por diante. O que se procurava realizar era uma espécie de balanço de toda aquela intrincada movimentação dos anos 60, bem como a avaliação das possíveis saídas a curto e médio prazo, O resultado foi a publicação de uma “declaração de princípios” na qual, em determinado trecho, se afirmava o seguinte: “A nova sociedade, a Sociedade Alternativa, deve emergir do velho Sistema, como um cogumelo novo brota de um tronco apodrecido. Acabou-se a era do protesto subterrâneo e das demonstrações existenciais. Acabou-se o mito de que os artistas têm que estar à margem de sua época. Devemos de agora em diante investir toda a nossa energia na construção de novas condições. O que for possível utilizar da velha sociedade, nós utilizaremos sem escrúpulos: meios de comunicação, dinheiro, estratégia, know-how e as poucas e boas idéias liberais”.


Esgotada, é evidente que a contracultura não estava. No entanto, os sinais de um remanejamento das linhas básicas de seu projeto inicial são evidentes. Quais as chances de vitória desta reorientação tática. . . e estratégica? Quais os riscos de absorção pelo Sistema? Difícil responder. O mínimo que se pode dizer é que, vista com o recuo de uma perspectiva histórica que a passagem de mais dez anos já nos permite ter, aquela reorientação era realmente inevitável.






*Fonte: Título meramente ilustrativo do exceto do livro de Carlos Alberto M. Pereira, O Que é Contracultura (Coleção Primeiros Passos, n 100), São Paulo, Editora Brasiliense:1984.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Breve Histórico da Música Jamaicana



Breve Histórico da Música Jamaicana
Bergson Henrique e Raphael Cruz

A história musical jamaicana se baseia em ritmos populares como o Mento, que é um dos ritmos genuinamente jamaicanos, juntamente com outros ritmos caribenhos como o Calypso (de Trinidad) que vinham de outras ilhas que formam as Antilhas.

Nos anos 1950 a Jamaica estava se habituando a escutar o que vinha das estações de rádio americanas, desenvolvendo um gosto pelo Rhythm and Blues, o Jazz e demais variações da música popular norte-americana. Essa entrada de música americana era difundida também através dos Sound Systems que se originaram nos guetos de Kingston (capital jamaicana) e que consistiam de equipamentos de som à céu aberto onde eram reproduzidos os discos selecionados pelos dj's. Dois desses dj's e que posteriormente viriam a marcar profundamente a música jamaicana foram os produtores Coxsone Dodd (dono da mundialmente conhecida gravadora jamaicana Studio One) e Duke Reid (proprietário da Tresure Isle). Os sound systems tiveram um importante papel na formação da música moderna jamaicana pois impulsionaram o nascimento do Ska, do Rocksteady, do Reggae e do Dub.

No perímetro urbano da Jamaica, a novidade dos sound systems não agradou muito a classe média, que ainda preferia escutar o Jazz e o Rhythm and Blues americano, mais pelo status do que realmente pela musicalidade.

É desse ambiente cultural que surge o Ska, da mistura de ritmos locais (Mento), afro-caribenhos (Calypso) e norte-americanos (Jazz e Rhythm and Blues), sendo considerado o primeiro grande desenvolvimento da moderna música popular jamaicana, de onde dali a alguns anos iria brotar o Rocksteady e mais tarde o Reggae.

O Ska se caracteriza por ser um ritmo fortemente acentuado nos contratempos, nos 2o e 4o tempos do compasso, onde piano e guitarra acentuam os contratempos, enfatizados pelos metais, quando esses não estavam solando.
Com o seu desenvolvimento foram surgindo grandes solistas, principalmente dos metais, já que esses eram os instrumentos que mais se destacavam no todo da música, com solos que cada vez se aperfeiçoavam mais.
Parte da população jamaicana estava satisfeita e orgulhosa da nova música que estava sendo feita, outra parte achava o Ska um ritmo básico, com letras infantis, rimas simples e batida constante e de certa forma "dura".

Já no tocante ao contexto social da época ele era marcado por uma Jamaica conturbada, prestes a conseguir a independência nacional (6 de Agosto de 1962) perante a Inglaterra. O clima estava conturbado e muitos problemas sociais ocorriam. Muitos temas de Ska abordavam esses problemas, como Simmer Down dos Wailers, de 1964, que relatava os dias difíceis que estavam sendo vividos. A delinqüência juvenil também era crescente, da qual surgiu um grupo de jovens que eram considerados pequenos marginais, os rude boys, jovens negros e pobres dos guetos de Kingston que não tiveram oportunidade de viver no clima de euforia da independência, muitos tinham vindo do interior tentar a vida na cidade grande, mas só encontraram mais miséria ou o mundo do crime como alternativa. Assaltar turistas e comércios e fumar cannabis no monte Zion eram algumas de suas atividades quando não estavam esperando o próximo baile. Suas roupas eram baseadas nos personagens de filmes gangsteres americanos dos anos 30 e a maneira de dançar Ska chamava atenção, tanto pelas roupas quanto pela maneira imponente de dançar.

Posteriormente com a imigração para a Inglaterra, especificamente Londres, desses jovens e o contato com jovens brancos e pobres provenientes da classe operária nos bailes de música negra, fez nascer a figura do skinhead, que reúne elementos culturais tanto dos rude boys jamaicanos quanto dos mods ingleses.

Diz a lenda que foi atendendo a pedidos do público que o Ska foi um pouco desacelerado para que fosse possível encaixar uma letra de música, já que nele eram os metais quem preenchiam os compassos musicais. Outra versão conta que os instrumentistas dos metais estavam insatisfeitos com a pequena remuneração que recebiam e acabaram ficando para segundo plano, dando mais destaque ao vocal e aos outros instrumentos, como o baixo que criava novas linhas de riddins e a guitarra.

É nessa desaceleração do Ska que temos as origens do Rocksteady. Ele predominou nas paradas jamaicanas entre o Ska e o surgimento do Reggae, mais precisamente entre os anos de 66 e 68. É visto como uma fase de transição entre os dois ritmos. Não é tão rápido quanto o Ska e nem tão lento quanto o Reggae. Sua principal característica foi desviar mais a atenção para o vocal, com o surgimento de duos e trios vocais. Suas letras geralmente falam do cotidiano, prevalecendo às temáticas amorosas, com melodias bem definidas e harmonizadas.

Bob Marley chegou a gravar alguns temas de Rocksteady quando voltou dos EUA em 1966.

Como para se fazer Rocksteady não se necessitava de tantos instrumentistas quanto para se fazer um Ska, a produção musical jamaicana sofreu um intenso impulso, que fez a ilha fervilhar de novos talentos como Melodians, Heptones e Paragons. Por ter sua estrutura mais a ver com o Reggae do que com o próprio Ska, o Rocksteady tem sua história um pouco deixada de lado, ficando para o Reggae o maior reconhecimento pelo grande público e fama da música jamaicana.


Raphael Cruz (f.raphael.c@gmail.com)
Bergson Henrique (
magao_sppud@hotmail.com)
Fonte: zine Rude, Uma Menssagem Para Ti, Fortaleza, Ceará, 2008.

Power Pop

"Power pop is what we play"
Pete Townshend

Power Pop por Roy Shuker

É considerado frequentemente como uma invenção pós-punk, um estratagema de marketing das grandes gravadoras. Mas, na verdade, o termo power pop possui uma história bastante longa, sendo aplicado a diversos artistas e grupos desde a década de 1960.

A origem musical para quase todo o power pop são os Beatles, que fixaram o estilo. Atribui-se o desenvolvimento do gênero nos anos de 1960 a grupos como The Who, The Kinks e Move, que apresentaram melodias agressivas e guitarras distorcidas e barulhentas (o “power”). Entre as principais bandas norte-americanas de power pop do mesmo período, destacam-se The Byrds (que se inspirou nos Beatles), Tommy James and The Shondells e Paul Revere and The Raiders (essas duas últimas bandas são também associadas ao bubblegun).

Alguns exemplos posteriores do Power pop britânico são Badfinger, Nick Lowe, Slade e Sweet (essas duas últimas bandas são muito associadas ao glam/glitter). Entre as norte-americanas, destacam-se Raspberries e Big Star, no início dos anos de 70, e Cheap Trick e The Knack, na década seguinte. Todas essas bandas foram muito influenciadas pela produção anterior aos anos de 1960, produzindo “um pop espirituoso, repleto de refrões vigorosos” (Erlewine et alii: 1995). Durante a década de 1980, diversas bandas britânicas e norte-americanas de new wave e alternativas incorporaram elementos do power pop (por exemplo, o Replacements, The Stone Roses). As influências também estão presentes no som de Dunedin (principalmente, The Chills) e no brit pop contemporâneo.



Fonte

Garage Rock


Garage Rock
Roy Shuker


Bandas de garagem; garage rock: No final da década de 1960, as bandas de garagem (assim chamadas porque seus integrantes tocavam em garagens ou porões) eram particularmente proeminentes nos Estados Unidos. Essas bandas responderam à invasão britânica do mercado norte-americano. Tocando um rock básico, com grande entusiasmo, muitos desses grupos produziram em sua carreira apenas um sucesso, com alguns deles transformados em clássicos.

Entre as bandas de maior longevidade estão The Standells, The Eletric Prunes e The Count Five. Entre as canções regravadas destacam-se "Gloria" (originalmente, integrava o lado B de um single do grupo britânico Them, gravado em 1966), "Hei Joe" (The Leaves) e "Louie, Louie" (Kingsmen). No Reino Unido, o estilo garage foi melhor representado pelo Troggs ("Wild Thing", 1966), um grupo protopunk comercialmente bem-sucedido.

Em 1972, uma compilação das gravações de bandas de garagem (Nuggets) reunidas por Lenny Kaye renovou o interesse por esse tipo de obra, produzindo uma grande quantidade de relançamentos (Nuggets, vols. 1-12, Rhino; e Pebbles, vols. 1-10, AIP). No texto de Kaye, o gênero recebeu a denominação de "punk rock", um reconhecimento prévio da influência posterior do estilo garagem sobre o punk rock pós-1977.

No final da década de 1970 e início da de 1980, o advento do punk provocou um renascimento do interesse pelas bandas de garagem, cujo o som não é significativamente diferente. Recentemente, o termo "garage dance" aplicou-se a uma forma de dance music de New Jersey (o clube Paradise Garage) e Nova Iorque, que também se desenvolvel no Reino Unido.


Entre as características da música garage rock estão "o desvio capaz de chocar, o excesso de gritos estridentes e zombarias e as guitarras ruidosas, quase sempre dotadas de um timbre encrespado" (Erlewine et alii: 1995). O gênero era constituído em grande parte pelos moradores brancos e adolescentes dos subúrbios. Surgiu pela primeira vez por volta de 1965, sobretudo em pequenas gravadoras locais e ligadas a fortes cenários regionais (especialmente Texas e Califórnia), cada um com um estilo distinto.

Em 1967 e 1968, o gênero sofreu um declínio, já que os membros das bandas sofriam as consequências do recrutamento para a Guerra do Vietnã, da necessidade de frequentar a faculdade e também da falta de sucesso comercial. As bandas de garagem sobreviventes tenderam para um som mais progressivo e psicodélico (por exemplo, The Eletric Prunes, The Blues Magoos e The Chocolate Watch Band).

O gênero e seus grupos são estranhamente negligenciados em diversas histórias do rock norte-americano (Friedlander: 1996; Garofalo; 1997), ainda assim possuindo uma legião de adeptos, com fanzines e sites na Internet.


*Leitura adicional: Bangs: 1992 (inclui discografia); Erlewine et alii: 1995; Heylin: 1992. *Escutar The Chocolate Watch Band, The Best of The Chocolate Watch Band, Rhino, 1983. Nuggets Volume One : The Hits, Rhino, 1984. The Troggs, The Best of The Troggs, Polygram, 1988.

Fonte



Dicionário de Música Pop (editora Hedra)