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No início do verão de 1965, um panfleto apareceu na cidade de Amsterdã, pedindo que grandes quantias de dinheiro fossem enviadas para o endereço editorial de uma nova revista chamada PROVO. O panfleto afirmava que a nova revista era necessaria:
"— porque essa sociedade capitalista está envenenando a si mesma com uma necessidade mórbida por dinheiro. Seus membros são levados a endeusar o Ter e desprezar o Ser.
— porque essa sociedade burocrática está se chocando com ela mesma, reprimindo qualquer forma de espontaneidade. Seus membros só podem tornar-se pessoas individuais e criativas através de condutas anti-sodais.
— porque essa sociedade militarista está cavando sua própria cova com a construção de armas atômicas paranóicas, e seus membros não podem esperar nada do futuro, a não ser morte certa por radiação atômica."
O primeiro número da PROVO apareceu logo depois e foi imediatamente confiscado pelas autoridades, por conter um diagrama reproduzido do manual The Pratical Anarchist, de 1920, que supostamente instruía o leitor na produção de explosivos. Na verdade, a técnica não funcionava. Esse e outros escândalos fizeram com que a circulação da PROVO subisse de quinhentos para vinte mil exemplares por ano.
Os primeiros ativistas do PROVO — entre eles Roal Van Duyn (nascido em 1942), Rob Sroik, Robert Jasper Grootveld (nascido em 1932), Simon Vinkenoog, Bart Huges e o ex-situacionista Constant — tinham origens basicamente anarco-comunistas e criativas. No entanto, as satíricas ações político-culturais dos PROVOS fizeram com que a juventude insatisfeita de Amsterdã logo se juntasse ao que rapidamente se tornou um movimento.
Amsterdã era considerada um centro mágico e no seu coração estava o Spui, onde, próximo da estátua de um pequeno menino chamado Lieverdja — e rotulado pelos PROVOS de consumidor viciado —, Grootveld vinha organizando happenings semanais desde 1964.
Os PROVOS elaboraram uma série de “planos brancos”: soluções para problemas sociais e ecológicos da cidade, que funcionavam também como provocações às autoridades holandesas. Entre os mais famosos está o Plano de Bicicletas Brancas.
Os PROVOS anunciaram num panfleto que bicicletas brancas seriam espalhadas pela cidade para serem usadas pela população em geral. O protótipo desse transporte comunitário gratuito foi apresentado à imprensa e ao público em 28 de julho de 1965, perto da estátua de Lieverdja. O plano foi um enorme sucesso como uma “provocação contra a propriedade privada capitalista” e o “monstro do carro”, mas fracassou como experimento social. A polícia, aterrorizada pela idéia de propriedade comunitária sendo deixada nas ruas, confiscou todas as bicicletas que acharam sem dono ou sem corrente.


A reputação internacional dos PROVOS vem do ataque à procissão do casamento da Princesa Beatrix e do Príncipe Claus von Amsburg, com bombas de fumaça, em maio de 1966. A polícia revidou imediatamente, batendo selvagemente nos manifestantes contrários à monarquia. No entanto, o povo de Amsterdã demonstrou seu apoio à causa PROVO, votando num representante do movimento para vereador nas eleições locais, três semanas depois. Depois disso, tornou-se claro que era apenas uma questão de tempo até que as atividades radicais do PROVO fossem reprimidas pelas autoridades holandesas, e assim, na primavera de 1967, o movimento se dissolveu.

"Nossos amigos belgas afinal aprenderam como podem efetivamente atrair a atenção do público para as luxuriosas atividades no Vietnã. Eles botam fogo numa loja de departamento e em trezentos cidadãos saciados com suas fascinantes vidas e Bruxelas transforma-se em Hanói. Ninguém mais precisa derramar lágrimas pelos pobres vietnamitas enquanto lê seu jornal numa opulenta mesa de café da manhã. Hoje só é necessário ir até o departamento de roupas da Ka De We, Hertie, Woolworths, Bika ou Neckerman, e discretamente acender um cigarro no trocador...”.
Apesar do panfleto — e a sugestão de que o incêndio em Bruxelas fora provocado por militantes contra a Guerra do Vietnã — ser claramente uma piada, a imprensa ficou chocada. Mais uma vez a Kommune 1 foi o foco da atenção pública, fazendo com que ficasse cada vez mais difícil para a burguesia repousar tranqüilarnente em suas camas.



O estilo freak de agitação, quando utilizado por aqueles dispostos a agüentar a violenta reação que caía sobre eles, era particularmente efetivo, porque representava alternativas tanto culturais como políticas à dominação capitalista. O sistema, ameaçado pela influência dessa vanguarda violenta, reagiu enfatizando na mídia o aspecto “paz e amor” da cultura hippie. No entanto, os militantes não desapareceram porque a mídia escolheu representar de forma errônea o movimento: na verdade, eles voltaram na forma de guerrilha urbana**.
*Home, Stewart. Assalto Á Cultura: utopua, subversão, guerrilha na (anti) arte do século XX (tradução de Cris Siqueira). São Paulo: Conrad, 1999.
*Obviamente, o grande número de movimentos ativos durante os anos 60 faz com que seja impossível cobrir sequer uma fração deles no espaço disponível aqui. Entre os grupos mais interessantes que omiti estão os Diggers de Emmett Grogan, que passaram o úm dos anos 60 fornecendo comida grátis, roupas grátis, alojamento grátis, etc., para as pessoas nas ruas Haight e Ashbury em São Francisco. Grupos Diggers, inspirados pelas atividades de Grogan, espalharamse mais tarde pelos Estados Unidos e pela Europa. Esses grupos representavam um lado eminentemente prático de um movimento que o sistema muitas vezes acusou de ser idealista e pouco prático.
*Obviamente, o grande número de movimentos ativos durante os anos 60 faz com que seja impossível cobrir sequer uma fração deles no espaço disponível aqui. Entre os grupos mais interessantes que omiti estão os Diggers de Emmett Grogan, que passaram o úm dos anos 60 fornecendo comida grátis, roupas grátis, alojamento grátis, etc., para as pessoas nas ruas Haight e Ashbury em São Francisco. Grupos Diggers, inspirados pelas atividades de Grogan, espalharamse mais tarde pelos Estados Unidos e pela Europa. Esses grupos representavam um lado eminentemente prático de um movimento que o sistema muitas vezes acusou de ser idealista e pouco prático.
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